A opinião de ...

Que paz, aqui!

Quando pensamos na guerra e, em particular, nas guerras palestiniano-israelita e russo-ucraniana, sentimos que vivemos em paz. E, no entanto, temos problemas variados: de segurança e ordenamento; de desigualdade económica, social, de género e educacional; de degradação ambiental, e, até, de desestruturação de valores civilizacionais e culturais, que gostaríamos de não ter. Porém, parece não haver problemas maiores relativamente à nossa capacidade de diálogo e entendimento. Enquanto na relação Ucrânia-Rússia e Israel-Palestina ela não existe.
Israel e Palestina têm andado quase sempre aos tiros e às explosões, desde que Israel foi país independente, em 1948, e, verdadeiramente, desde que houve o primeiro Congresso Internacional sobre o Sionismo, em 1897. Portanto, a procura de uma pátria para os Judeus (Israelitas) tem já mais de 100 anos, e para os palestinianos, 76. Entre os vizinhos, só o Egipto reconhece o Estado da Palestina.
Os israelitas não reconhecem um estado palestiniano e, a separá-los, está ainda o facto de os palestinianos não aceitarem o território que internacionalmente lhes é oferecido pelos Estados Unidos e Grã-Bretanha. De modo que o estado de guerra entre israelitas e palestinianos é permanente como se estivessem condenados ou a matar-se ou a destruir-se reciprocamente.
Nunca mais houve paz entre o Mundo Árabe e o Mundo Ocidental desde a I Guerra israelo-palestiniana, em 1948. Israel tem sido a guarda avançada do Mundo Ocidental, e este tem sigo o guarda-costas de Israel, criando um choque civilizacional de que Rússia e China se têm aproveitado muito bem na busca de hegemonia geo-estratégica e luta por recursos energéticos.
Interrogo-me por tudo isto sobre o que nos trouxe a paz, a nós, Mundo Ocidental, que possa faltar aos palestinianos, guarda avançada do Mundo Árabe face ao Ocidente. E concluo pela existência de quatro factores fundamentais que não existem na Palestina. São eles: um território, um povo, a abundância de bens para distribuir pela população, a separação da Igreja e do Estado e a autodeterminação. Os palestinianos só têm um destes elementos, o povo, e, mesmo este não é homogéneo dados os conflitos entre Xiitas e Sunitas. A Palestina é assim um país e um Estado inexistentes. Reivindica e luta pela existência mas, a existir, resta saber se tem capacidade para a autosustentação em distribuição de bens para manter a paz social e para estruturar um sistema repressivo não violento que mantenha a ordem.
O que constitui a nossa paz e a nossa ordem, no Mundo Ocidental, é a capacidade de distribuição e alimentação de toda a gente e a repressão da desordem com base em leis racionais e laicas. Tudo isto falta em grande parte no Mundo Árabe e totalmente na Palestina.
A luta palestiniana por um Estado é justa se se despir de terrorismo e de compromisso religioso. A Palestina deve ser laica. Israel deve também ser laico.
A paz social baseia-se na prosperidade económica, na homogeneidade cultural e na tolerância religiosa do Estado Laico, garantindo a liberdade de escolha e a partilha de valores comuns. Até lá, resta guerra e morte.

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