A opinião de ...

A esperança mora sempre na escola

O ano lectivo arrancou, cheio de esperanças e de problemas. Sem problemas não é sólida a esperança. Sem esperança, o desespero toma conta dos problemas.
São costumeiras as esperanças e os problemas na Escola Portuguesa. Provavelmente, em todas as e colas de todos os países.
Do lado das esperanças, todos os anos se prometem inovações. Este ano são: a dos manuais escolares em forma digital, via Internet; a da colocação atempada dos professores, esta cinquenta vezes repetida desde que me conheço como professor, desde 1972, mas nunca realizada porque, pura e simplesmente, ou não há candidatos em número suficiente ou as condições e remuneração do exercício não são atractivos. E uma retoma, a da a da interação face a face.
Quanto ao manual escolar digital, é uma inovação precipitada, que não pensa na economia circular do livro nem na falta de computadores e de receção da Internet numa grande parte dos lares portugueses. Enfim, como dizia uma velha máxima, o insucesso escolar é o sucesso de uma forma de escola com exclusão das outras.
Para os alunos, a interação social em todas as suas formas, superada a pandemia, é a maior inovação: o beijo, o abraço, o jogo, o grupo, a conversa, a integração e a exclusão. Os alunos podem voltar as ver as caras, o brilho dos olhos, o sorriso, a dor, a alegria e a tristeza. Que excelente pedagogia há na face do ser humano! Foi a inovação da luta contra a tragédia. É a inovação que sempre tem de estar presente na escola.
Do lado dos problemas, há também muitos e, para resolver alguns, são criados outros. Faltam professores mas, tal como nos médicos, a profissão não é apelativa nas atuais condições de exercício profissional.
Falam muito de autonomia dos agrupamentos escolares mas estes continuam a não poder colocar livremente os professores correspondentes aos lugares não preenchidos nos concursos nacional e de zona pedagógica. Claro que assim fica muito mais difícil ter professores. Os novos critérios de selecção de professores, baseados no interesse local podem vir a comprometer em vez de ajudar. O que é isso de interesse local? Eu só conheço o interesse dos alunos e o dos pais e só tem a ver com a melhor aprendizagem e bem-estar dos alunos.
Há um problema gerado desde 2005 que é o da sedentarização e excessiva academização da Escola a Tempo Inteiro. Tendo-se querido resolver os problemas da guarda das crianças, enfiaram-se estas em salas e perdeu-se o desenvolvimento motor, a agilidade física, o jogo e a criatividade motora e estética. Apela-se à actividade física, motora e criativa.
A semestralização das disciplinas empacotando-as em semestres e trimestres é outra ideia a fazer caminho. Não tem suporte teórico-empírico na infância e na adolescência. Mas pode fazer sentido em disciplinas em que a interação não está garantida pelo menos duas vezes por semana, com aulas separadas por pelo menos dois dias.
Enfim!... Tanta coisa!

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3902

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