A opinião de ...

A arte do génio maligno

 
 Mandar, dirigir, coordenar não têm significados idênticos nem são tarefas fáceis mas podem, sempre, simplificando as classificações, ter ou uma boa ou uma razoável ou uma má orientação.
Olhando para as duas semanas passadas mais próximas, há factos que evidenciam arte de mal mandar.
Em primeiro lugar, o facto de Xanana Gusmão, o Primeiro-Ministro de Timor-Leste, se ter armado em chanceler do Governo timorense e ter expulsado quatro juízes portugueses e um oficial da PSP por, ao que consta, não lhe estarem a satisfazer as vontades, contrárias à Lei. Em vez de alterar a Lei, Xanana alterou ou juízes e disse que quem manda é ele, com a lei dele, em cada momento. Pelos vistos, a democracia leva muito tempo a amadurecer e a formar consciências democráticas.
Em segundo lugar, o Governo português mandou embora a Troika, entregou o Orçamento do Estado para 2015 e entrou em campanha eleitoral. Será longa e desgastante, tanto para os partidos do Governo como para o principal partido da Oposição, o PS. É preocupante a fragilidade revelada pelo Governo ao ter de se justificar e de atacar os líderes do PS. Governo é Governo, tem de ter um norte, orientar-se por este e não dar troco a provocações. De outro modo, teremos um ano de campanha eleitoral e de vazio governativo.
E é um cenário que só favorece o PS.
Em terceiro lugar, a tentação do império por parte de Ângela Merkel. Continua a pensar que a virtude está no Norte e o pecado no Sul da Europa. Agora, disse que Portugal e Espanha têm demasiados licenciados, o que até nem é mentira se nos ativermos à capacidade da economia para os absorver em termos de emprego e à falta de quadros médios altamente qualificados do ponto de vista profissional técnico-prático. Mas também não é uma verdade em si mesma. Por isso, será muito mais importante dizer que as novas licenciaturas devem essencialmente ser técnico-profissionais e que o ensino técnico-profissional de nível médio se deve incrementar. Porque, de facto, Portugal não tem excesso de licenciados (17,1%, de entre a população entre os 24 e os 64 anos) contra a média europeia de 25,6%. O problema é que desses 17,1% mais de 50% não interessam a uma economia moderna por falta de formação tecnológica, técnica e prática.
Finalmente, o quarto caso, a revolta da população cristã católica de Canelas.
Os ideais democráticos lá vão entrando na cultura e nas práticas. Não sei quem tem razão, se o povo de Canelas ou se o Bispo Católico do Porto, que substituiu o Pároco de Canelas.
 Um pouco mais de diálogo não ficaria mal. Até porque convém aos líderes espirituais dinamizarem as sinergias participativas da sua eclésia (comunidade).
Mas a arte de mal mandar é como o génio maligno de René Descartes: está constantemente presente para nos perturbar o raciocínio, o conhecimento e a acção.

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