CICLISMO

ENTREVISTA “Cada nova experiência é um sonho vivido”

Publicado por Guilherme Moutinho em Qui, 04/24/2025 - 15:46

Jorge Mariz leva o nome de Bragança às estradas do ciclismo nacional e internacional

 

Aos 27 anos, Jorge Mariz é um exemplo claro de como a paixão pelas duas rodas pode transformar-se num verdadeiro modo de vida. Natural da aldeia de Milhão, no concelho de Bragança, o ciclista representa atualmente a equipa Penacova/CEG/Reconco, estrutura com a qual se tem afirmado no pelotão amador nacional, com incursões internacionais cada vez mais relevantes.

“Desde pequeno andava de bicicleta, apenas por diversão com os amigos. Nunca pensei que um dia levasse isto tão a sério, quanto mais competir a este nível”, recorda.

Foi o padrinho de crisma, Lícinio Granjinho, entre outras pessoas próximas, quem lhe despertou o gosto pelas voltas e aventuras sobre rodas. “Em 2017 comprei uma bicicleta de BTT. A ideia era fazer umas viagens, como o Caminho de Santiago, e desfrutar.”

A mudança de rumo surgiu em 2020, quando conheceu o treinador Sérgio Lima. “Foi a primeira vez que ouvi falar de treinos estruturados para ciclismo. Tivemos uma breve conversa e senti logo que era uma oportunidade para elevar o meu nível competitivo.”

Em abril de 2021 iniciou acompanhamento técnico e, um mês depois, estreou-se em competição oficial, na Taça de Portugal XCM BTT. “Desisti aos 73 quilómetros, tal era a dureza. Mas essa desistência foi o clique. Percebi que queria mais, que precisava de treinar com foco e voltar mais forte.”

Desde então, tem acumulado experiências marcantes, enfrentando desafios físicos e mentais exigentes. “Os momentos mais intensos são aqueles em que estou sozinho, a lutar contra mim mesmo. É aí que o treino se revela.”

Entre as provas mais memoráveis destaca o Campeonato do Mundo de Granfondos (2023), em Glasgow, onde foi o melhor português, terminando na 31.ª posição. “Estava em excelente forma. Representar Portugal foi um enorme orgulho.”

Já o maior desafio que enfrentou aconteceu em Itália, no Granfondo Stelvio Santini (2023). “Foram 160 quilómetros, com mais de quatro mil metros de desnível, sob condições climatéricas muito adversas. Um verdadeiro teste aos meus limites.”

A sua evolução tem assentado numa rotina de treinos exigente, sobretudo na fase de pré-época. “Na competição não se ganha forma, apenas se mantém. O trabalho-chave é feito antes.” Alimentação e descanso tornaram-se, entretanto, prioridades. “No início, não ligava muito a esses aspetos. Quando percebi que a nutrição fazia parte do treino, tudo mudou. É fundamental descansar bem, para render mais no treino e, depois, em prova. O meu treinador costuma dizer que mais vale fazer menos do que fazer a mais.”

Durante muito tempo treinou sozinho, por falta de estrutura local. “Foi um período exigente, mas ganhei disciplina e resiliência. Agora tenho amigos com quem treino em Bragança, o que torna tudo mais dinâmico.”

A entrada na Penacova/CEG/Reconco marcou um ponto de viragem. “Tive algumas propostas, mas esta surgiu como uma oportunidade concreta de evolução.” A presença da empresa transmontana Reconco, que o apoia desde o início, pesou na decisão. “Ver a Reconco integrada na equipa reforçou a minha motivação. É da minha terra e tem sido um apoio essencial.”

Apesar de representar uma estrutura sediada fora da região, Jorge Mariz mantém uma forte ligação a Trás-os-Montes. “Levo sempre o nome da terra comigo. O clima e os terrenos exigentes da região transmontana moldaram o atleta que sou.” O apoio de empresas locais também tem sido determinante. “Sem elas, nada disto seria possível. Sentir esse apoio dá mais força e vontade de dar o máximo.”

Presença frequente nos pódios, tanto em provas de estrada como em eventos de BTT, Jorge Mariz é hoje um nome consolidado na modalidade. “Fico satisfeito por estar recorrentemente entre os primeiros. É sinal de que o trabalho tem dado frutos.”

Atualmente, concilia o ciclismo com a vida profissional e pessoal, mantendo-se ligado às origens e ao apoio familiar. “Cada semana é um desafio de organização. Não é fácil, mas a resiliência ajuda-me a não baixar os braços.” Entre os objetivos para 2025, destaca a camisola amarela nos Grandfondos da Bike Service. “Estou em segundo lugar no ‘ranking’ geral acumulado e vou dar tudo no próximo Douro Granfondo para continuar a somar pontos.”

Para o futuro, prefere manter os pés bem assentes na terra. “O meu sonho é continuar a andar de bicicleta com paixão. Já realizei muitos objetivos, como viajar e conhecer o mundo através do ciclismo. Cada nova experiência é um sonho vivido.”

Antes de terminar, deixa um conselho a quem agora começa: “É importante perceber que há duas vertentes — lazer e competição. Para competir, é preciso dedicação, consistência e paixão. Não é fácil, mas vale a pena.” E reforça o papel da família. “É o meu maior suporte. Sentir esse apoio é fundamental. São a força que me mantém em moviment

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