Nordeste Transmontano

Constrangimentos provocados pela pandemia na campanha menores do que o esperado mas partidos apostam menos em comícios

Publicado por António G. Rodrigues em Qui, 2021-09-23 15:41

"Mais do que a campanha,  a pandemia de covid-19 afetou a pré-campanha e a formação das listas, sobretudo aos partidos mais pequenos." O desabafo ao Mensageiro de Bragança foi de Jóni Ledo, porta-voz distrital do Bloco de Esquerda e candidato em Vila Flor.

As eleições autárquicas de 2021 pareciam ser marcadas pelos constrangimentos provocados pela pandemia mas o desanuviar da situação no distrito de Bragança nas últimas semanas e a interiorização de comportamento defensivos como o uso de máscaras, desinfeção das mãos e as distâncias de segurança ajudaram a normalizar uma campanha que, habitualmente, é de proximidade.
No entanto, houve algumas mudanças.

"Fizemos o contacto porta a porta para evitar grandes ajuntamentos em comícios.
Temos a nossa equipa, sempre com máscara. Abordamos as pessoas com alguma distância para um contacto personalizado. Há duas ou três freguesias que insistem em fazer comícios mas temos tentado evitar", explicou João Pinheiro, responsável da campanha do PS à Câmara de Bragança.

A ausência de grandes ajuntamentos e comícios tem sido a palavra de ordem.

"Sim, tivemos de reorganizar a forma como as ações de campanha decorrem no meio rural. Privilegiamos o exterior, com distanciamento e máscara, sempre. Só quem discursa é que tira a máscara. Utilização de álcool em todas as viaturas.
Na cidade não iremos fazer comício. Corríamos o risco de ter muita gente e poder ser um foco de contágios. Optámos por uma mega caravana e arruadas. Há sempre diferenças e constrangimentos, até no próprio contacto e proximidade. Mas tem funcionado com regularidade.Inicialmente, até esperava que houvesse mais constrangimentos mas a situação epidemiológica tem evoluído favoravelmente", frisou Miguel Abrunhosa, responsável pela logística da campanha do PSD em Bragança.

Do lado do Chega, o líder distrital, José Pires, revela ter havido especial cuidado no planeamento das ações de campanha. "No nosso caso, tivemos o cuidado de alterar, até por prevenção e exemplo, a forma de fazer campanha. Se nas campanhas anteriores trazíamos muita gente, tentamos que ande menos gente na rua.

Mesmo em eventos, a utilização da máscara, nos espaços fechados. Sentimos que as pessoas ainda estão muito reticentes e com receio.
Devemos primar pelo exemplo e, por isso, temos menos gente", explicou.

José Pires admitie que chegou a pensar que houvesse mais constrangimentos a limitar as ações de campanha.
"No início do verão, não se sabia como iria evoluir a situação pandémica. Por isso, projetámos uma série de cenários. Por exemplo, não vamos bater tanto às portas das pessoas. Tentamos respeitar mais o espaço individual", garantiu.

No entanto, admitiu uma maior aposta no digital. " Quem não o fizer, praticamente não existe. Mas essa aposta já aconteceria independentemente da pandemia.

Do lado da CDU, Fátima Bento explica que "já há uma certa normalização da forma de estar, com o uso de máscara, distanciamento, entrar nas lojas de acordo com a indicação que existe no exterior".

"Esperava que houvesse mais limitações. Campanha que fazemos é a que sempre fizemos, não seguimos a linha de outros partidos com grandes partidos.

Privilegia-se mais o contacto individualizado. Fazemos questão de não andar um número muito grande de pessoas porque é contraproducente levar uma grande caravana porque isso acaba por intimidar as pessoas, sobretudo nas aldeias", referiu.

Para o Bloco de Esquerda, o grande constrangimento aconteceu no inverno, com os confinamentos que prejudicaram os contactos para a elaboração de listas.

"Para quem está no poder esse trabalho é mais simples. Sobretudo para os partidos mais pequenos é mais complexo o contacto com a população quando houve confinamentos. Isso aumentou o fosso entre os dois grandes partidos e os restantes.
Houve uma altura em que nem sequer podíamos ter contacto com a população e aqui ainda há muita gente a que não conseguimos chegar através das redes sociais.

Hoje já está praticamente toda a gente vacinada. O contacto não é a mesma coisa e ainda vai demorar até que seja mas na campanha isso mitiga-se um pouco porque conseguimos contactar com as pessoas, apesar de não ser tão próximo como antes.

Prejudicou mais a formação de listas do que propriamente a campanha", precisou Jóni Ledo, que considera "um sinal preocupante" se a abstenção aumentar.

"Espero que não potencie a abstenção. Nas autárquicas é sempre menor, o que valoriza mais a política de proximidade. Os cadernos têm vindo a ser corrigidos e, à partida, a abstenção poderá ser ligeiramente inferior. Se for maior, é um sinal preocupante. Neste momento é seguro ir votar", disse.

Mas se a generalidade dos partidos não teme o aumento da abstenção, Fátima Bento, da CDU, alerta para essa possibilidade.
"Temos esse receio. Contudo, as autárquicas são sempre diferentes, com a abstenção mais reduzida. Como os números são baixos, é possível que a abstenção não suba", espera.

Uma das evidências que tem saltado à vista é a "ânsia por contacto" que se vê, sobretudo no meio rural, após ano e meio de restrições no contacto humano e social.

" As pessoas estão muito recetivas. As pessoas querem saber as propostas, e gostam de receber a visita das pessoas porque estiveram ano e meio quase sem contactos. É gratificante para as pessoas, sobretudo no meio rural.
Na cidade já não se nota grande diferença", aponta João Pinheiro, do PS de Bragança.
 

 

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