Rui Borges, novo treinador do Moreirense, em entrevista ao Mensageiro

“Chegar ao patamar mais alto do futebol português é um sonho concretizado”

Publicado por Fernando Pires em Qui, 2023-07-27 16:19

Rui Borges começou por treinar o Sport Clube Mirandela no campeonato de Portugal na época 2017/2018. Depois passou por 5 clubes da Segunda Liga (Académico de Viseu, Académica de Coimbra, Nacional, Vilafranquense e Mafra) e chega agora ao clube de Moreira de Cónegos.
Nesta entrevista, o jovem treinador de 42 anos não esconde a sua ambição de tentar outros projetos ainda mais ambiciosos.

Mensageiro- Na última entrevista, tinha falado que o grande sonho era chegar à Primeira Liga o mais rápido possível. Conseguiu este ano, esperava que fosse tão rápido?

Rui Borges- Sim, é o concretizar de um sonho ver o nosso trabalho ao longo destes 7 anos, como equipa técnica, ser valorizado todo o nosso trabalho, toda a nossa competência que temos tido de alguma forma, toda a nossa luta para conseguir este objetivo, de chegar à Primeira Liga. Sabíamos da contrapartida dos cursos de treinadores, felizmente estou a acabar esse ciclo dos cursos mas acima de tudo é ver recompensado todo o nosso trabalho e principalmente o trabalho que foi esta época que acabamos por estar em dois clubes, onde saímos valorizados e chegar ao fim e ver recompensado todo nosso trabalho toda a nossa competência é o melhor que pode existir. É mesmo o realizar de um sonho ter chegado ao patamar mais alto em termos daquilo que é o futebol português.

MB.- Mas ainda em relação à questão da surpresa, ou não. A minha pergunta tem a ver com o facto de em tão pouco tempo ter esta ascensão meteórica. Isto acaba ou não por ser uma surpresa para si?

RB- Não olho como surpresa, porque acredito e acreditamos muito naquilo que é o nosso trabalho e acho que temos tido a capacidade de mostrar alguma competência ao longo dos anos, agora sabíamos e queríamos chegar de forma sustentada a Primeira Liga.  
Já tive essa oportunidade mais atras, não se concretizou precisamente por causa das situações do curso, continuamos naquilo que era o nosso caminho por isso era um objetivo, não há uma surpresa, ao fim ao cabo, não há uma grande surpresa para nós porque era esse o nosso objetivo e trabalhamos para isso.
Subimos de patamares, de forma sustentada e passo a passo. Sei que tive a felicidade e jamais vou deixar de agradecer ao Correia (presidente da direção so SC Mirandela) porque teve a coragem de apostar em mim neste caso como treinador mal acabei a minha carreira de futebolista aí no Sport Clube Mirandela, começamos no campeonato de Portugal, tivemos oportunidade na Segunda Liga e temos demonstrado ao longo deste tempo essa competência para em algum momento ter esta oportunidade e chegou agora. Sabemos que as responsabilidades agora aumentaram é continuar a acreditar naquilo que acima de tudo nos acreditamos sempre e todos os dias que é o nosso trabalho.

MB- Quando refere essa questão dos cursos, se começasse já o campeonato o Rui já poderia estar como o técnico principal na ficha de jogo?

RB- Ainda tenho que estar algum tempo, porque ainda estou em fase de finalização do curso e a Liga este ano mudou um pouco as leis, mas não quero entrar muito por aí, mas estou feliz por chegar ao fim desse processo.
São quatro níveis, neste caso, estou a tirar o último. Deixa me mais feliz, mais tranquilo e feliz também pelo Moreirense, que mesmo com essa pequena contrapartida teve a coragem e a vontade de apostar na nossa equipa técnica e ver acima de tudo também essa competência. Seguir o nosso trabalho, acreditar muito naquilo que é o nosso trabalho, naquilo que é o nosso dia-a-dia, seremos felizes com toda a certeza e não nos agarrarmos muito aquilo que é menos positivo.

MB- O Rui Borges também se tem mantido fiel há sua equipa técnica. No fundo também é a confiança que tem em quem o tem ajudado ao longo dos anos.

RB- Sim, penso que é o mais importante na equipa técnica também tem muito a ver com aquilo que eu sou como pessoa, sou muito agarrado aquilo que são valores, a família, a fidelidade, e ser fiel a nos próprios enquanto equipa técnica e eles são fiéis, são honestos, são competentes também, porque se não fossem não poderiam fazer parte, mas acima de tudo eu gosto de estar com quem me ajudou desde o início.
Temos crescido todos, não só eu, todos naquilo que é o papel de cada um ao longo destes 7 anos. É isso que me deixa feliz também, é que vamos juntos, vamos indo juntos, vamos crescendo juntos, vamos crescendo uns com os outros e vamos crescendo cada um naquilo que é o seu papel dentro da equipa técnica, cada um vai crescendo cada vez mais também naquilo que tem que fazer e eu fico feliz. Olho para eles como uns irmãos, ao fim ao cabo, passo mais tempo com eles do que com a minha família e considero a eles família porque são como irmãos para mim, mas acima de tudo aquilo que é o nosso entendimento diário, não é tudo às mil maravilhas, questionamo-nos, temos opiniões diferentes em alguns momentos e é isso que nos faz crescer também.

MB- Em relação ao facto de ter outro tipo de responsabilidade devido ao novo patamar que atingiu, o Rui também tem a consciência que servirá de exemplo e motivação para os treinadores mais jovens aqui de Mirandela e da região?

RB- Sim, acredito que sim e deixa-me orgulhoso nesse sentido. Acima de tudo, a minha formação e o meu crescimento foi sempre no Sport Clube Mirandela, sou muito agarrado ao valor da família, sou muito agarrado aquilo que é a minha terra e de alguma forma representá-la da melhor maneira e cada vez melhor e mais alto.
Deixa-me muito feliz, porque sou muito chegado a cidade e ao clube e gosto que de algum momento quando falarem no Rui Borges que se identifiquem também com Mirandela e com Sport Clube Mirandela.
Que os mais jovens também acreditem que cada vez mais é possível, mesmo estando em zonas mais interiores do país em que se calhar antigamente existia mais dificuldade para aparecermos, para nos encontrarem, cada vez mais as pessoas olham para essas cidades, cada vez mais olham para essas zonas do pais, com mais dificuldade que agora se mostrarmos trabalho, se acreditarmos naquilo que é o nosso trabalho, se acreditarmos naquilo que são os nossos sonhos, é possível e fico feliz por de alguma forma servir de exemplo para os mais novos.

MB- E quais os conselhos que daria a quem está a começar ou a quem está a pensar ter altos voos como o Rui?

RB- Que tentem de alguma forma crescer de uma forma sustentada, estou 7 anos a treinar futebol sénior porque passei por um crescimento lá atras grande, porque felizmente, em Mirandela deram me a oportunidade enquanto jogador de treinar formação e desde os 26 anos que o faço.
Na formação passei por todos os escalões desde os sub-7 ou sub-6 até aos sub-19 e todos eles obrigam me a pensar coisas diferentes, ver coisas diferentes, obrigaram-me a crescer de forma diferente e foi tudo muito importante naquilo que foi o meu crescimento e naquilo que é o sustentar do meu crescimento. Não tenham pressa, que as coisas não acontecem de hoje para amanhã com toda a certeza, tentem e façam por passar por todos os patamares, depois se realmente tiverem mais capacidade ainda essa competência vai ser valorizada mais cedo.
Por isso, se for esse o sonho, devem tirar essas formações de treinador, porque é importante, mas também outras formações com outros treinadores para passar e conhecerem outras vivências, de alguma forma crescerem de nível individual.
Acima de tudo que acreditem, naquilo que é o trabalho deles, mas que o façam de forma sustentada. Nesse caso, em Mirandela ou na Associação de Bragança, há futebol de 7, futebol de 9, futebol de 11 e todo esse processo leva-nos também a conhecer e a perceber outras coisas naquilo que é o jogo, naquilo que é o treino por isso faz parte do nosso crescimento, mas acima de tudo é o acreditar no sonho e trabalhar por isso.

MB- Neste momento o desafio é treinar o Moreirense. O que é que lhe foi pedido pela direção do clube? Qual o principal objetivo ou a fasquia que lhe foi transmitida?

RB- Não me foi imposta nenhuma fasquia. Agora sei bem aquilo que é a responsabilidade de treinar o Moreirense, apesar de que teve uma contrapartida há dois anos quando desceu, mas era uma equipa que estava sustentada na Primeira Liga, uma equipa que toda a gente olha e respeitada por tudo que é enquanto clube, enquanto representação de uma vila, uma vila singular, realmente, o seu presidente também, já há bastantes anos no clube, é facilmente identificável.
Por isso naquilo que é a identificação do clube a mim deixa-me orgulhoso de representá-lo porque também é um bocadinho dentro daquilo que são os meus valores, é um clube humilde que acredita muito naquilo que é a capacidade do trabalho diário, por isso é um bocadinho à nossa imagem. Por isso acho que é o clube certo para a oportunidade que me foi dada num primeiro momento para chegar a Primeira Liga de Portugal.
Sei também que as responsabilidades aumentaram porque a Primeira liga assim o implica, jogos difíceis, adversários mais difíceis, o jogo é diferente, as características do jogo são muito diferentes daquilo que é a segunda liga. Vai obrigar-me a crescer também nesse sentido, olhar para o jogo de outra forma, a percebe-lo de outra forma, acho que também vai fazer parte do meu crescimento. Por isso é trabalhar, as coisas não vão correr sempre como nos desejamos, é certo, mas acredito que vamos ser felizes com toda a certeza.

MB- O Moreirense acaba por não ser uma casa de todo desconhecida, visto que já a representou como jogador. Por essa razão, a adaptação está a ser mais fácil?

RB- Sim, nesse sentido sim. É um clube onde passei, onde gostei de estar, onde fui feliz também, onde fiz algumas amizades, algumas até ainda se encontram no clube. Por isso é algo que me deixa de alguma forma mais tranquilo neste primeiro momento porque me sinto bem  e acarinhado. Por isso é bom voltar aqui. Que seja feliz é isso que quero, é ter essa capacidade, essa competência para de alguma forma nos sustentarmos naquilo que é a Primeira Liga de Portugal que é esse o objetivo agora e depois mais para a frente logo veremos.

MB- E logo com um teste difícil. Na primeira jornada recebem o FC Porto.

RB- Sim, é um bom jogo. Normalmente, na brincadeira com a minha equipa técnica, falamos uns com os outros e falamos muito naquilo que são os adversários e digo sempre que gosto de jogar com as grandes equipas e eles riem-se. Parece que é de propósito e saiu-nos o FC Porto na primeira jornada. É o que é, vamos ter que jogar com toda a gente, vai nos por a prova desde o primeiro momento, é certo. Mas é um jogo. Sabemos das dificuldades, mas será o primeiro jogo e tudo faremos para ser felizes, por mais dificuldades que vamos ter, e vamos ter com toda a certeza, mas vamos também ser competitivos.

MB- Acaba de chegar à Primeira Liga, mas considera que poderá ser um trampolim para outros voos mais ambiciosos?

RB- Sim. A gente em tudo na vida tem que criar objetivos e nós enquanto equipa técnica também os criamos. O primeiro objetivo era este, chegar a primeira liga e agora é ter essa capacidade, porque foi difícil chegar aqui, mais difícil vai será manter nos aqui.
Por isso, num primeiro momento é mostrar e termos essa capacidade de mostrar a competência que temos tido ao longo destes tempos, ao longos destes anos, mostrar essa competência na Primeira Liga portuguesa. Depois sim, de forma sustentada também criar objetivos para nos enquanto equipa técnica chegar mais acima, a outros patamares, como é lógico. Não queremos parar por aqui. Queremos criar esses objetivos, sabemos que serão difíceis. Mas como foi difícil até aqui será depois, mas também acreditamos muito e conseguimos. Por isso, temos a noção que criando objetivos alcançáveis, acima de tudo, e de forma sustentada.

Assinaturas MDB