Diocese de Bragança-Miranda

Bispo D. Nuno Almeida lembra "a terrível escalada das guerras e conflitos desumanos" na homilia da Missa do Galo

Publicado por AGR em Seg, 2023-12-25 12:59

O bispo de Bragança-Miranda, D. Nuno Almeida, lembrou, na sua homilia durante a Missa do Galo, na noite deste domingo, na catedral, em Bragança, a "terrível escalada das guerras e conflitos desumanos" que "multiplica as vítimas inocentes em todos os lados das trincheiras".

 

Perante uma plateia repleta de fiéis, D. Nuno Almeida começou por dizer que esta era "uma noite de glória, a glória proclamada pelos anjos em Belém". "É uma noite de alegria, porque, desde agora e para sempre, Deus, o Eterno, é Deus connosco. É uma noite de luz: a luz, profetizada por Isaías e que havia de iluminar quem caminha em terra tenebrosa (cf. Is 9, 1), manifestou-se e envolveu os pastores de Belém (cf. Lc 2, 9).

Os pastores descobrem, pura e simplesmente, que «um menino nasceu para nós» (Is 9, 5) e compreendem que toda aquela glória, toda aquela alegria, toda aquela luz se concentra num único sinal que o anjo lhes indicou: «Encontrareis um menino envolto em panos e deitado numa manjedoura» (Lc 2, 12). Se queremos festejar o verdadeiro Natal, contemplemos este sinal: a simplicidade frágil dum pequenino recém-nascido. Ali está Deus!", disse o prelado.

 

D. Nuno Almeida lembrou que "a celebração do Natal é solene convite a contemplar o Deus Menino que, na sua fragilidade, nos mostra que é no amor que encontramos o sentido da vida".

"O Menino que nasce interpela-nos: chama-nos a deixar as ilusões do efémero para ir ao essencial, renunciar às nossas pretensões insaciáveis, abandonar aquela perene insatisfação e a tristeza por algo que sempre nos faltará.

O mistério do Natal interpela e mexe connosco porque é um mistério de esperança e simultaneamente de tristeza. Traz consigo um sabor de tristeza, já que o amor não é acolhido e a vida é frequentemente descartada. Assim acontece a José e Maria, que encontraram as portas fechadas e puseram Jesus numa manjedoura, «por não haver lugar para eles na hospedaria» (Lc 2, 7). Jesus nasce rejeitado por alguns e na indiferença da maioria. E a mesma indiferença pode reinar também hoje, quando o Natal se torna uma festa onde os protagonistas somos nós, em vez de ser Ele", disse.

 

Por outro lado, o bispo de Bragança-Miranda não deixou de assinalar os tempos bélicos que ameaçam a paz no mundo. "O nosso tempo tornou-se aflitivo, pois acordamos e adormecemos com notícias, relatos e imagens aterradoras que não julgávamos possíveis nem nos nossos piores pesadelos. A terrível escalada das guerras e conflitos desumanos multiplica as vítimas inocentes em todos os lados das trincheiras.

Estamos a navegar num momento tempestuoso e sente-se a falta de rotas corajosas de paz”. Reler estas palavras do Papa Francisco, proferidas na Jornada Mundial da Juventude, faz-nos compreender melhor que temos de fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para despertar e cultivar uma atitude livre e corajosa de promoção da paz. Avivemos a consciência de que a guerra é uma derrota, apenas uma derrota que não resolve os problemas, mas traz mais sofrimento e morte a pessoas inocentes.

Mas não podemos desistir de contribuir com a nossa parte para resgatar a esperança. Faz, por isso, ainda mais sentido recordar e repetir as palavras do Papa Francisco: “Numa guerra há apenas um lado possível, o lado da paz”.

Todos podemos ser pacificadores nos nossos ambientes, nos círculos em que nos movemos, em tudo o que fazemos e dizemos. A paz no mundo também se constrói a partir de gestos pacificadores e de entreajuda. O diálogo pode também ser uma arma poderosa, para que vença a concórdia", assinalou.

 

A terminar, D. Nuno Almeida fez um apelo aos fiéis: "Nesta noite santa de Natal, deixemo-nos tocar pela ternura que salva. Entremos no verdadeiro Natal com os pastores, levemos a Jesus aquilo que somos, as nossas feridas não curadas e os nossos pecados. Assim, em Jesus, saborearemos o verdadeiro espírito do Natal: a beleza de ser amado por Deus.

Hoje queremos ter presente na nossa oração a todos e a cada um da nossa comunidade e da inteira família humana, sobretudo os mais velhos, os doentes e todas as pessoas que vivem no sofrimento, na solidão, no isolamento, na prisão, na deficiência, na ignorância, na pobreza, na depressão, no stress, no luto, no desemprego e na migração ou vivem nas periferias existenciais que são invisíveis.

Com Maria e José, paremos diante da manjedoura, diante de Jesus que nasce como pão para a nossa vida. Contemplando o seu amor humilde e infinito, digamos-Lhe pura e simplesmente obrigado: Obrigado, porque fizestes tudo isto por mim, por nós!

 

Meu Senhor e meu Deus, que te fazes pequeno e frágil,
ensina-nos a tratar a fragilidade com delicadeza.

 

Meu Senhor e meu Deus
que vens ao mundo sem espaço para te receber,
ensina-nos a acolher os que não encontram lugar.

 

Meu Senhor e meu Deus
que chegas de forma simples,
mostra-nos como viver o Natal dos pobres, no dar e no receber.

Meu Senhor e meu Deus,
que nasces debaixo do céu estrelado,
ensina-nos a contemplar no meio da tribulação.

 

Meu Senhor e meu Deus,
que trazes luz às trevas da noite,
ilumina o que em nós é escuridão.

 

Meu Senhor e meu Deus
que vens para congregar à tua volta,
faz de nós instrumentos de unidade e de paz. Amen
!", concluiu o bispo diocesano.

 

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