A opinião de ...

A Fraternidade Humana

Celebrou-se, no passado dia quatro de fevereiro, o Dia Internacional da Fraternidade Humana, um dia dedicado à reflexão sobre a pobreza e a miséria em que vivem milhões de pessoas que, por isso mesmo, sentem necessidade de ser ajudadas, de forma a terem uma vida digna, nos vários aspetos que essa vida requer.
Contrariamente, contudo, a guerra prossegue, com ferocidade, sobretudo na Ucrânia, como tudo quanto de oposto pode acontecer em relação à Fraternidade Humana. Mesmo assim, nessas terras mártires, não deixa de existir alguém que olha pelo seu semelhante, providenciando para que não lhe falte o essencial para sobreviver.
Noutros casos, como no recente terramoto na Turquia e na Síria, onde morreram milhares de pessoas, foi evidente a atuação de muitos voluntários que assistiram os sobreviventes nas suas necessidades básicas, enquanto muitos dos que ficaram soterrados vivos nos escombros foram procurados, encontrados e objeto de cuidados, com especial atuação da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho, além de várias equipas de salvamento.
Assim aconteceu nas cheias em S. Paulo, no Brasil, onde também a Fraternidade Humana se manifestou ativa, proporcionando o conforto aos que foram atingidos por tal calamidade, como tem acontecido noutros pontos da Terra em que têm ocorrido calamidades semelhantes.
É, pois, a Fraternidade Humana aquele que, de entre os demais valores, se torna imprescindível pela sua presença e assistência.
Para lá da guerra e das calamidades naturais, em muitos países do mundo se tem verificado a falta de alimentos que, na maioria dos casos, leva à subnutrição e à morte. Esta falta de alimentos acontece porque, embora haja quem procure suprir essa necessidade, dois fatores parece serem responsáveis por essa falta: a demora em chegar atempadamente ao destino e a falta de eficácia na sua distribuição por quem precisa. Por outro lado, mais alimentos poderiam ser recolhidos e distribuídos, se não fossem objeto de tanto desperdício, desperdício este que muito iria contribuir também para matar a fome.
Igualmente a Fraternidade Humana encontra muito campo de ação entre aqueles que não têm teto, saúde, educação, liberdade…
Tantos casos a mencionar!
O Dia Internacional da Fraternidade Humana foi proclamado pela Assembleia Geral da ONU, em 21 de dezembro de 2020, sob proposta do Egito e dos Emiratos Árabes Unidos, no prosseguimento do encontro entre o Papa Francisco e o Xeque Ahmad Al-Tayyeb, do Abu Dabi. Deste encontro resultou o “Documento da Fraternidade Humana para a Paz e Coexistência Mundial”, no qual o Papa Francisco se inspirou para escrever a Carta Encíclica “Fratelli Tutti”.
A palavra “fraternidade” tem origem no latim “fraternitas-fraternitatis”, a qual, como parte da expressão “fraternidade humana”, nos remete para tudo quanto significa o gesto de alguém que olha pelo seu irmão, pelo seu semelhante, em tudo quanto esse irmão ou esse semelhante necessita na sua vivência. Esta ajuda tanto pode verificar-se no campo material como no espiritual: olhar pelo seu irmão ou pelo seu semelhante quer significar que, em qualquer circunstância, sobretudo de carência material ou de desânimo, alguém pode ou deve ajudar o outro. Veja-se a expressão: “Ter uma mão amiga”.
A celebração deste evento teve, neste mês de fevereiro, um abundante campo, onde pôde exercer a sua influência: na saúde e no socorro, na religião, no amor, na cultura, no entretenimento, tal como lembra a cultura que emerge de escritores nascidos nesse mês, relacionados, ora com a pobreza, Victor Hugo – Os Miseráveis, ora com a Natureza, Charles Darwin – A Origem das Espécies e Cesário Verde – O Livro de Cesário Verde, ora com a sociedade – António Aleixo – Este Livro que vos deixo…

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3926

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