A opinião de ...

O Brilho Olímpico

Os rostos no final de cada prova... Os sonhos realizam-se ou caiem ali. Tanto tempo de trabalho naqueles momentos, vidas suspensas, uma linha ténue. A partir de casa é bastante fácil escrever, mas impossível imaginar o que vai na cabeça destes HUMANOS.
Glória aos vencedores e honra aos vencidos pois independentemente das medalhas olímpicas, como a de prata da Patrícia Mamona e a de bronze do Jorge Fonseca, e outras que se esperam principalmente do Fernando Pimenta e do Pablo Pichardo, todos merecem respeito e admiração!
Mesmo aqueles que à semelhança do nosso Fernando Mamede, como a atleta de excelência, Simone Biles, que abandonou a final feminina de ginástica e a prova individual em que era claramente a favorita, não conseguiram aguentar o peso do mundo aos ombros, as exigências exteriores.
Visto de fora, a maioria de nós não imagina do que um atleta deste nível passa, quer a nível físico quer a nível mental. E emocional. Para ali chegar são milhares de horas de treino, de múltiplos sacrifícios, de não poder estar com a família e os amigos e depois lidar ainda com as expetativas.
Contudo, no caso português, a superação tem de ser ainda maior. Não é à toa que ao dia de hoje Portugal só tem 26 medalhas olímpicas no total (e apenas 22 medalhados, uma vez que temos 4 atletas que ganharam duas medalhas cada): 4 de ouro, 9 de prata e 13 de bronze. Enquanto um Michael Phelps por exemplo, sozinho, tem 23 medalhas e quase todas elas de ouro!
A cada edição dos Jogos Olímpicos a história repete-se. Alguns portugueses exigem medalhas ignorando as condições financeiras dos atletas, a falta de investimento e de cultura desportiva do país e o desinteresse geral em modalidades que não sejam o futebol. E como se não houvesse outras atletas com as mesmas aspirações, capacidades e empenho que os nossos.
Se hoje temos 92 atletas a representar Portugal em Tokyo 2020 é graças principalmente à teimosia e à dedicação deles e de um pequeno grupo de pessoas apaixonadas pelas modalidades e a alguns clubes que fazem autênticos milagres para as manter em funcionamento.
Esta situação denota antes de mais, uma falta de cultura desportiva. Constate-se que o início dos JO passou ao lado das capas dos jornais, que dias depois vemo-los a discutir o falhanço de atleta X, do qual falam apenas de 4 em 4 anos. Na verdade, quantas reportagens há, ao longo do ano, sobre outras modalidades que não o futebol? Quantas sobre os treinos, evolução, contratos e contratações? Quantos programas de comentário “desportivo”? No fundo, quantas modalidades têm a atenção quase diária que tem o futebol? Zero!
Vejo crianças e jovens com aptidão para o desporto a desistirem por não conseguir conciliar com os estudos, estudos estes que só valorizam o aluno do quadro de mérito que será “doutor” e menosprezam os desportistas.
Concomitantemente, evidencia igualmente uma gritante falta de apoio, nos diferentes governos, nacional e local, fora o futebol, ao desporto em geral (não só aos atletas de alta competição) e inclusive ao desporto nas Escolas.
Portugal com uma população de 10.347M investiu no Comité Olímpico 18.5M€ ao passo que a Espanha com uma população de 46.9M efetuou um investimento de 251M€, só 13 vezes e meia mais.
Não há investimento, não há apoios. Quantas vezes não vamos por essa Europa fora e reparamos (mesmo em Espanha) que a mais pequena vila possui várias infraestruturas desportivas! O simples facto de qualquer criança poder ter contacto com diferentes desportos faz toda a diferença principalmente quando, como agora, assistimos a uma queda de 78% de jovens praticantes nas principais modalidades coletivas!
Uma daquelas autoestradas desertas, mas com três faixas de rodagem para cada lado, como a A8, dava para quantas piscinas, ou pistas de tartan ou outro equipamento desportivo nas escolas?
Temos muito caminho a percorrer com a participação de todos, porque sem desporto e educação, não somos nada.

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