A opinião de ...

Subprodutos duma “Democracia” à Portuguesa

Por mais irreal que possa parecer e custe a aceitar, o recente escândalo, vergonhoso e indesculpável, que eclodiu no ministério das infraestruturas do atual governo de maioria, não aconteceu num qualquer bairro de lata dum país do terceiro mundo, numa qualquer favela da América do Sul, num qualquer bairro periférico duma grande cidade ou numa qualquer república das bananas.
Sendo, até certa medida, aceitável que aí pudesse ser possível, por mais que isto nos envergonhe, o que nem ao diabo lembraria, aconteceu em Lisboa, sim, e com todas as letras, foi mesmo no governo de Lisboa, a capital de Portugal, este Portugal que tanto se orgulha e pavoneia de ser um país da Europa.
Por mais compreensão, complacência e caridade que se possa e queira ter para com os seus atores, dada a estrema gravidade de tudo o que aconteceu e, em mais uma fuga para a frente, (no que este governo é useiro e vezeiro), assobiar para o lado, tomar a nuvem por Juno e, fazendo de conta que  tudo se resumiu a uma brincadeira de mau gosto  de meninos da linha do Estoril, tentar resolver tudo com a demissão do elo mais fraco, seria o mesmo que nada , acabando por deixar ficar muito mal na fotografia tanto a democracia, como, e sobretudo, o próprio chefe deste governo.
Ainda que isto custe a engolir a muita gente, não é todos os dias que, numa noite de loucos, se assiste a um espetáculo degradante como o que foi oferecido ao mundo pelo ministério das infraestruturas, em que membros do governo se envolvem à pancada, se acusam reciprocamente de incompetentes e mentirosos, do desvio de equipamento e apropriação indevida de informação seletiva e confidencial, se fazem exonerações por SMS, se agridem colaboradores do serviço, as funcionárias se refugiam nas casas de banho, bicicletas voam pelos ares, se chama a polícia e, santa ignorância e infantilidade, se tem o desplante de envolver nesta vergonha o próprio do SIS.
Depois desta vergonha ter ido tão longe, o país tem todo o direito de exigir dos principais responsáveis uma resposta rápida e séria a esta pergunta: Será desta?
- Será desta, Senhor Dr. Marcelo de Sousa que se assume como o Presidente da República de corpo inteiro?
- Será desta , Senhor Dr. António Costa que toma consciência que não vai ter outra oportunidade e se assume como um verdadeiro líder ou, mais uma vez, vai correr o risco de  pegar nas mesmas  cartas de sempre, mais rotas e coçadas do que as dos baralhos das tabernas, limitando-se a baralhar e dar de novo?
Depois, se o caldo se entornar, não diga que se enganou.

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