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Bispo D. Nuno Almeida lembra que “os que partiram não nos deixaram” em dia dos Fiéis Defuntos

Publicado por AGR em Qui, 2023-11-09 17:25

O bispo da diocese de Bragança-Miranda, D. Nuno Almeida, presidiu à eucaristia no dia dos Fiéis Defuntos, no cemitério de Bragança, no passado dia 02 de novembro, em que lembrou, durante a homilia, que “os que partiram não nos deixaram”.

“Ao percorremos a nossa lista de contactos, deparamos com nomes de pessoas que já não podem responder. Já não podem estar do outro lado da linha. Mas continuam, bem presentes, neste lado da vida, na nossa memória e no nosso coração. Afinal, os que partiram não nos deixaram. Nunca se apaga em nós quem se apegou a nós e a quem nós nos apegamos pelos laços do amor e da amizade. Nunca nos desligamos de quem estivemos e estamos ligados pelo amor verdadeiro”, destacou o prelado.

D. Nuno Almeida recordou, ainda, os que já partiram. “Neste dia dos Fiéis Defuntos, lembramos todos os que já nos morreram: o pai e a mãe, o marido ou a esposa, os filhos e os irmãos, os sobrinhos e os tios, os avós e os primos, os vizinhos e conterrâneos, os amigos, os benfeitores e servidores de tantas causas e instituições!

O amor é mais forte do que a morte! Por isso, o perfume das flores, a luz das velas, o som e o timbre das nossas orações … exalam o odor, o brilho e o timbre da saudade. Sentimos que quem morre nos morre! Sentimos a partida dos que nos morrem na medida em que os amámos. Precisamos de chorar! Temos razões para o fazer porque sofremos com a perda de um amor que cultivámos, cuidámos, construímos, é e será sempre parte de nós”, destacou o bispo da diocese de Bragança-Miranda.

O prelado sublinouo que “é sempre do amor e da vida que falamos quando lidamos com a morte”. “A vida não nos é roubada na morte, porque ela nunca foi nossa, nunca possuímos a vida como um bem pessoal que conquistamos por direito. Foi-nos doada para a restituirmos, para a darmos, para sermos dom. A vida para o outro e com o outro está inscrita em cada um de nós, é a luz e a seiva do nosso coração.

Se da vida na terra só podemos levar aquilo que demos, compreendemos que Deus, ao dar-nos mãos, mostrou ter para connosco tanta bondade e tanto amor como se nos tivesse dado asas.

Nada do que fomos e demos será perda. Será apenas diferente. Só levaremos connosco o bem que fizermos com os nossos bens materiais, espirituais e, sobretudo, relacionais. Será regresso a Casa, depois do que experimentámos no fio da vida, entre o momento de alegria e de dor, de riso, de prazer, de esforço, vitórias e fracassos. Mais do que fim, será princípio, em comunhão com o Amor inteiro, com aquele mais que nos faltava quando, por aqui, fomos “gente feliz com lágrimas” (João de Melo)”, sublinhou D. Nuno Almeida.

O prelado recordou ainda o diálogo entre Marta, irmã de Lázaro, e Jesus: “Senhor, se estivesses aqui, meu irmão não teria morrido. Mas eu sei que, mesmo agora, tudo o que pedires a Deus, Ele To concederá.” Disse-lhe Jesus: “Teu irmão ressuscitará” (Jo 11, 21-23). Marta chorava a morte do irmão e lamentava que Jesus não tivesse aparecido, na sua opinião, a tempo e horas. Não se detém, no entanto, no lamento, porque sabe o fundamental: “Mas eu sei que, mesmo agora, tudo o que pedires a Deus, Ele To concederá”.
O texto de João, que escutámos, apresenta-nos, claramente dois momentos no olhar das irmãs de Lázaro.

O primeiro é o da dor e, até, da incompreensão.

É normal que assim seja. Mas é obrigatório que à perplexidade e à dor se siga o discernimento; que, no escuro, procuremos o interruptor que nos devolva a nitidez dos espaços.
De olhos postos em Jesus que a Si mesmo se definiu com Luz, Marta abriu-se à sabedoria (ao verdadeiro e último sentido) e pôde erguer-se da neblina das lágrimas.
Ergamo-nos do nevoeiro da morte e, com fé, permitamos que, também a nós, Jesus possa responder e corresponder, por inteiro, a nosso clamor e desassossego, que lavra dentro da nossa alma!”, frisou D. Nuno.

Neste dia, “vemos muitas luzes nas sepulturas, muitas velas acesas”, apontou o prelado. “Velas da fé na ressurreição, velas da esperança na vida eterna, velas de um amor que não se extingue! Que a luz da fé não nos deixe tropeçar no desânimo e no desespero! Que a luz da fé mantenha acesa a nossa grande esperança na vida plena e eterna. Que a luz da fé nos dê esta certeza de que o amor de Deus é mais forte que a própria morte! Mas rezemos também como os apóstolos: “Eu creio, Senhor, mas aumenta a nossa fé” (Lc.17,5)!
A nossa confiança tem nome de ressurreição e garantia de pessoa: Jesus Cristo! Celebramos a vida e não a morte, celebramos a esperança e não o desespero; celebramos uma doce tristeza de uma separação que é a alegria da entrada numa Nova Vida, na Vida Eterna”, disse ainda o bispo.

D. Nuno Almeida terminou a sua homilia com um poema de Sophia de Mello Breyner Andersen.
“Um dia quebrarei todas as pontes
que ligam o meu ser vivo e total,
à agitação do mundo do irreal,
E calma, subirei até às fontes.
Irei até às fontes onde mora
a plenitude, o límpido esplendor
que me foi prometido em cada hora,
E, na face incompleta do amor,
irei beber a luz e o amanhecer,
irei beber a voz dessa promessa
que às vezes, como um voo, me atravessa,
E nela cumprirei todo o meu ser!

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