A opinião de ...

«Se eu soubesse…»

«Se eu soubesse…» é, porventura, uma das expressões mais ditas por cada um de nós, remetendo-nos de imediato para o mundo dos ‘ses’, dos hipotéticos e dos possíveis. Escrevo este artigo depois de uma marcante experiência de encontro com um doente. Partilhava-me ele que «se soubesse» teria sido diferente, teria amado mais, rezado mais.
A verdade é que nós todos sabemos que temos de ser mais. No entanto, o mundo e a vida enredam-nos, muitas vezes, neste marasmo que nos anestesia a consciência. O cuidado deste mundo faz-nos esquecer a necessidade – diria, urgente – de cuidar atentamente a alma e as almas daqueles que me rodeiam. E porquê? Porque temos medo. Sim, medo! O medo, o desalento, o desânimo, conduzem-nos à descrença e à desconfiança. Temos medo de perder, de deixar de ter, de que deixem de gostar de nós. Começamos, então, a estar sempre desconfiados e inseguros. Quem tem medo nunca irá amar total e verdadeiramente. Ficará sempre pela meia medida: nunca se dará por inteiro, nunca se enamorará ou encantará com o tesouro vivo que cada um de nós é. E se estamos desconfiados não poderemos nunca amar, pois amar e confiar são a única e mesma realidade, ou seja, só ama quem confia e só confia quem ama.
Só há um caminho: amar por inteiro. E isso, implica dar-se por inteiro. Dar-se não somente aos outros, mas fundamentalmente a Deus. Deus exige que O amemos por inteiro, que nos dêmos por inteiro, que O vivamos por inteiro.
«Se eu soubesse…»! Sabemos que temos de ser mais e diferentes. A mudança exige-se! Uma mudança que passa pela conversão real, que leve verdadeiramente à mudança paradigmática dos nossos padrões e dos nossos princípios que regem a nossa vida. Não caímos no perigo de chegar ao fim da nossa caminha existencial e, como que num arrombo de consciência, constatamos que passamos pela vida sem nunca ter amado e dado por inteiro, se ter vivido intensamente e por inteiro, sem ter rezado e amado a Deus por inteiro. Talvez venhamos a dizer no futuro: «Se eu soubesse amaria muito mais, cuidaria muito mais, ajudaria muito mais, estimaria muito mais, acolheria muito mais, rezaria muito mais…»!
Termino com a eloquência e sapiência do pensamento de Rubenita Simey: «É preciso amar por inteiro e viver por completo, ou será para sempre apenas meio, e viver pela metade é simplesmente inexistir».

Edição
3730

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