A opinião de ...

Os Dias que se seguem

E pronto, a azáfama eleitoral já passou, honra aos vencidos, glória aos vencedores. É tempo de começar a afiar as facas, a pensar no próximo ato eleitoral, que ocorrerá dentro de quatro anos.
E o tilintar do metal já se começou a ouvir, ainda durante a noite de domingo. Mas já lá vamos.
Para já, das eleições de domingo resultam algumas conclusões. Desde logo que em Bragança, o PSD é cada vez mais uma força enraizada.
Em Freixo, a tradição tem muita força e ainda não foi desta que um autarca chega ao terceiro mandato.
Em Vila Flor, a tendência de afastamento entre eleitores e executivo PS a que se assistiu há quatro anos não foi um arrufo passageiro, transformando-se, agora, em rutura definitiva após quase três décadas.
Os recandidatos opositores falharam o assalto ao poder apesar da preparação atempada (Vítor Bebiano, em Alfândega da Fé, e Carlos Almendra, em Vinhais, perderam o fôlego que tinham mostrado em 2017).
Já Júlio Meirinhos mostrou que não há sebastianismo em terras mirandesas.
Com a mudança de três Câmaras para o PSD (Vila Flor, Miranda do Douro e Mogadouro), a correlação de forças na Comunidade Intermunicipal Terras de Trás-os-Montes alterou-se. O PSD passou a ter a maioria de Câmaras (cinco) e a deter também o maior número de votos de eleitores (Freixo, Carrazeda e Moncorvo pertencem à CIM Douro, juntamente com concelhos de Viseu, Guarda e Vila Real).
O presidente da Câmara de Bragança, Hernâni Dias, seria o candidato natural à presidência da CIM, mas a conjuntura deverá apontar antes para Jorge Fidalgo, que domina em Vimioso e preside à distrital do PSD.
Hernâni Dias foi um dos principais vencedores da noite, pela consolidação de poder conseguida (fez o pleno com Câmara, Assembleia Municipal e todas as juntas de freguesia), algo que o PSD nunca tinha conseguido na capital de distrito.
À entrada para o terceiro e último mandato, já se começa a desenhar a sombra da sucessão.
Se os mais próximos do presidente apontam para o vereador Miguel Abrunhosa, dentro da própria autarquia já são bem visíveis as movimentações de João Rodrigues, genro de Jorge Nunes, que já começou a contagem de espingardas mesmo dentro da própria concelhia (o afastamento de alguns dos elementos da concelhia das diversas listas não é alheia a estes movimentos).
A rutura entre a corrente Nunes-Hernâni é cada vez mais evidente, até nas redes sociais, pelo que a luta dentro da concelhia será acesa nos próximos dois anos, até se chegar à escolha do próximo candidato.
Mas enquanto as duas fações andarem entretidas a guerrear-se, há outros fatores a ter em conta.
As eleições legislativas de 2023 e a possibilidade de Hernâni Dias se reaproximar de Rui Rio caso este volte a ser candidato à presidência do partido (nesse caso, Luís Montenegro não deve avançar), podendo vir a integrar as listas de deputados e deixar o mandato a meio.
Nesse caso, Paulo Xavier herdaria a Câmara de Bragança. Nesse cenário, resistiria à tentação de ser, ele próprio, candidato a seguir?
Por fim, o Chega mostrou ser mesmo o partido de André Ventura.

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