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O custo da ignorância

Este ano, fruto de alterações introduzidas ainda pelo Governo anterior, houve uma quebra acentuada de candidatos ao ensino superior, contrariando um movimento de crescimento que se vinha registando.
O impacto foi especialmente sentido, como de costume, pelas instituições do interior do país, com os efeitos lógicos que isso tem para as economias locais.
Com menos alunos, há menos quartos alugados, menos bocas a alimentarem-se nos supermercados, nos restaurantes, menos clientes para cafés, pastelarias, restaurantes, reprografias, lojas de roupa, transportes, etc, com a consequente diminuição de dinheiro a circular na economia.
Para se ter uma noção, na primeira fase do Concurso Nacional de Acesso, o total de candidatos em 2025 foi de 49 595. São menos 9046 candidatos do que em 2024.
Essa queda representa uma diminuição de aproximadamente 15,4%, dada a base do ano anterior.
Ainda relativamente à primeira fase, o número de alunos colocados foi de 43 899. Implica uma redução de 12,1% em relação a 2024.
No encerramento da segunda fase, houve 2 696 candidatos a menos do que na mesma fase em 2024. Esse número representa uma queda de 13,6%.
De acordo com várias vozes, a grande diferença esteve a ver com a exigência de duas provas de ingresso em vez de uma. Na prática, os alunos tinham de se candidatar com a nota de dois exames e não de apenas um (por exemplo, português e matemática, em vez de apenas português), sendo necessário ter pelo menos 9,5 nos exames com que se candidatavam.
Ora, segundo explica o presidente do Instituto Politécnico de Bragança, Orlando Rodrigues, numas páginas mais à frente, isto beneficia apenas quem tem mais poder de compra, pois as notas dos exames estão relacionadas com treino intensivo. Quem tiver mais dinheiro para pagar explicações, fica em vantagem face aos mais desfavorecidos.
isto vem introduzir um fator de injustiça, para além de deixar muitos mais alunos de fora do ensino superior.
Até porque as competências dos alunos que terminam o secundário, medidas por critérios internacionais, até são acima da média em Portugal comparando com outros países de referência como Espanha ou França.
Por outro lado, as instituições do litoral continuam a engrossar, com os custos que isso acarreta para as famílias do resto do país, que veem os peços de um quarto a chegar aos 700 euros.
Com muitas casas desviadas do aluguer a estudantes para o turismo de massas, a pressão sobre os preços nos grandes centros como Porto e Lisboa só vai aumentar.
Com o estado atual das coisas, aquilo que se consegue é afastar cada vez mais alunos do interior do país do Ensino Superior e sabe-se que esta é uma das formas de elevador social.
Como dizia Adriano Moreira, que foi homenageado este sábado em Bragança, citado pelo presidente da Faculdade de Direito de Lisboa, Eduardo Vera-Cruz Pinto, “se a educação é cara, experimentem a ignorância”. Não queiram esse custo para o país, afastando cada vez mais jovens do ensino superior.

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