Festa da Cabra e do Canhoto celebra tradição milenar em Cidões
No dia 1 de novembro a aldeia de Cidões, no concelho de Vinhais, volta a ser palco da Festa da Cabra e do Canhoto, uma tradição milenar associada que marca a entrada nas Festas de Inverno no Nordeste Transmontano.
Seja por superstição, por manter a tradição, ou por respeito ao legado histórico que integra a identidade cultural de aldeia, Cidões continua empenhada em manter, cada vez com maior vivacidade esta festa.
Nos últimos anos, graças ao trabalho da Associação Raízes d`aldeia de Cidões, a festa de forte tradição celta, ultrapassou fronteiras e é motivo para que centenas de pessoas se desloquem por uma noite a Cidões.
A aldeia tem menos de 20 residentes, mas os filhos da terra, que vivem e trabalham noutros lugares, regressam por estes dias para garantir que a Festa se faz e mais, que cresce de ano para ano. Este ano realiza-se no dia 1 de novembro, dia de Todos os Santos, e vai vestir a aldeia de misticismo e magia, invadida por trasgos, deusas e druidas e outras figuras fantásticas como o diabo e o Druida.
A partir das 19h00, a festa toma conta das ruas, por onde vai O antigo largo da Eira é o palco principal, um espaço já preparado para receber as cerca de duas mil pessoas que anualmente visitam a festa.
A festa começa às 19:00h com toda a aldeia decorada com motivos celtas, velas e estrelas flamejantes. Os locais organizam um celta, acompanhados pelo grupo de Teatro Filandorra e os Gaiteiros D’Onor, seguem até o recinto onde está instalada uma tenda, para garantir espaços cobertos em caso de chuva! Há várias tasquinhas com bebidas típicas desta festividade (vinho, sangria e licores celtas) e petiscos tradicionais variados (linguiça, alheira, Caldo verde, bifanas, presunto e feijoada à Cidões). E claro, na Festa da Cabra e do Canhoto é preciso comer a cabra machorra “Infértil”, cozinhada em enormes potes de ferro na fogueira. A “cabra machorra” representa a mulher do diabo que não deu qualquer descendência Queimam o Diabo e comem-lhe a mulher. Para consumir, à descrição, há queimada, aqui chamada de úlhaque (bebida espirituosa celta confecionada na aldeia) e café no pote com a brasa.
Logo de seguida é hora de acender a enorme fogueira com o Canhoto, onde ao final da noite há de arder o “cabrão” figura escultórica de 7 metros de altura, construída pelos alunos e professores do Grupo Disciplinar de Educação Visual e Educação Tecnológica do Agrupamento de Escolas D. Afonso III- Vinhais, a par de cabrões em miniatura.
Acende-se a estrela gigante e grupos de gaiteiros e danças celtas vão animar a festa em permanência, misturando-se com os visitantes. Os visitantes são desafiados irem vestidos com roupa celta, para se envolverem plenamente no misticismo desta original tradição.
O Druida e as suas deusas fazem o esconjuro e preparam a queimada, um dos momentos altos da festa, afastando os males do corpo e da alma, invocando prosperidade, fertilidade e sorte para a “estação escura” o inverno frio que se avizinha.
Por volta das 23:00h é tempo de queimar o “cabrão” ou “bode gigante”, empurrado pelas deusas para a fogueira do Fogo Sagrado. E é a queima do bode e o repasto de cabra machorra que desperta a ira do diabo que pouco mais tarde há de descer pela aldeia, em cima de um carro de bois, puxado pelos rapazes da terra. Um carro de bois com as tarraxas bem apertadas, que chia assustadoramente, torna o momento mais aterrorizador. Aqui dá-se o momento alto da noite que é a luta feroz que se vai travar entre o Druida e o diabo, este último a ser expulso da aldeia para voltar só na noite de 31 de outubro do ano seguinte. Até lá, toda a aldeia e todos os presentes estão protegidos de todos os males, inveja, azares e má sorte!
Há animação permanente, a cargo do Grupo de Teatro Filandorra, Animamos, Gaiteiros de Zedes e Gaiteiros D’Onor. Pela noite dentro atua o DJ F. Garcia.
Já de madrugada, num ritual reservado aos filhos da terra, a aldeia será virada do avesso. Na Festa da Cabra e do Canhoto, nada fica como era em Cidões! Tudo melhor!
Esta festa originalmente designada de “Samhain” era a comemoração celta mais importante sendo celebrada em toda a Europa, até à sua conversão ao cristianismo. Inicia-se com esta festividade o “Ano Novo Celta” que tinha início com a estação escura, na realidade a verdadeira passagem de ano.
A Samhain é a festa dos espíritos. O lugar dos espíritos seria um espaço de felicidade ausente de dor ou fome. Cabia aos sacerdotes druidas comunicar nesse dia com os antepassados.
A celebração com a designação de “Festa de Samhain” passou a chamar-se “noite das Bruxas ou Halloween” em todo o mundo, mas em Cidões sempre “Festa da Cabra e do Canhoto”.
