// Entrevista a Pedro Queirós, Diretor-Geral da Federação das Indústrias Portuguesas Agroalimentares (Continuação)

“Poucos jovens estão hoje disponíveis para trabalhar de sol a sol, 7 dias por semana”

Publicado por António G. Rodrigues em Sex, 11/21/2025 - 11:18

MB.: Um dos fatores que pode ajudar a evolução da agricultura em Portugal é um fator tecnológico. Comparativamente com outros países, nomeadamente com a Espanha, estamos bastante atrasados no uso da tecnologia na agricultura. Será preciso o Estado também intervir nesse aspeto? 
PQ.:
Eu não sou muito apologista da intervenção do Estado diretamente nas empresas e na produção. Eu acho que a nossa agricultura, e isto tenho de ser dito com fragilidade, com frontalidade, a nossa agricultura tem também aqui uma questão geracional. Obviamente que a agricultura precisa de investimentos, há alguns programas que os agricultores podem captar naturalmente para modernizar as suas produções, mas a agricultura precisa aqui de uma questão fundamental, que é ser atrativa. E o meu receio é que a agricultura não esteja a ser atrativa para as novas gerações. Portanto, o que temos é uma geração mais antiga, que com todo o mérito foi fazendo o seu trabalho agrícola, mas também já não tem grande disponibilidade para essa modernização, às vezes não tem capacidade de investimento, outras vezes não tem a própria disposição mental para fazer essa modernização. E o que é crítico é que os mais novos não estão a ser atraídos pela agricultura, que seriam esses que podiam vir, efetivamente, com um know-how completamente diferente e que pudessem realmente perceber a tecnologia e aplicá-la de outra forma e, naturalmente, procurar até outro tipo de investimento. Portanto, nós temos um fosso geracional grande na agricultura. 
Preocupantemente, o próprio ensino, os politécnicos e as universidades com o ensino agrícola e agroalimentar estão a ter cada vez menos procura, há um problema de base na formação de jovens com conhecimentos para abraçar projetos agrícolas, portanto, eu acho que este é o maior problema que temos neste momento, é que a agricultura, no meio de todo este cenário da dificuldade, da falta de investimento, da necessidade de modernização tecnológica, da imprevisibilidade, deixou de atrair os jovens. 
Aliás, há um estudo do Ministério da Agricultura francês que mostra que nos cursos de Engenharia Agroalimentar, nos últimos dois, três anos, houve uma queda de 21% da procura. Isto não é só um problema de Portugal, é um problema da Europa. E, efetivamente, se nós na Europa começamos a perder gente que quer ter formação avançada na agricultura, nós estamos a condenar a agricultura na Europa também. 

MB.: Quais são os principais fatores que têm afastado os jovens da agricultura? É a falta de rentabilidade, é a questão dos horários...? 

 

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