A opinião de ...

Um ano depois

Passou já um ano! E parece que foi ontem ou anteontem...
Um dia, caiu uma bomba em cima do mundo cristão. Ou do mundo, ponto final parágrafo.
Bento XVI anunciava a sua resignação. De um modo discreto e suave. Mas que não escaparia à atenção e à perspicácia de uma jornalista conhecedora de latim e das subtilezas da Cúria romana.
Depois do choque, a busca da explicação.E a descoberta da coragem, da humildade, do realismo e da inspiração divina num gesto sem precedente nos tempos modernos e contemporâneos.
O Papa reconhecia que novos desafios e enormes desafios exigiam outro Pontífice.Com a mesma elevação de alma com que aceitara a sua missão, apesar de entender que seria sempre uma missão de transição.
E, porque Deus não dormia, a decisão de passar o testemunho teve a sequência exigida pelo inédito da situação vivida.
Francisco veio, de facto, abrir um novo ciclo na vida da Igreja que somos e na vida do mundo.
Menos doutrinário, mais pastoral.
Menos de uma Igreja virada sobre si própria e mais virada para as periferias, para as áreas mais longínquas, para as paragens mais distantes.
Menos eurocêntrica e mais universalista ainda do que, por natureza, já era.
Menos peso da tradição da Santa Sé poder político e estilo majestático e mais Cúria Romana exemplo de humildade, de pobreza, de partilha dos dramas quotidianos de milhões de cristãos espalhados pelo mundo.
Não para condenar o passado mas para enfrentar tempos diferentes, com reptos diversos.
Um ano! Que é apenas o começo de um novo troço de um percurso mais longo e mais vasto.
Em que o essencial é, no entanto, agirmos aqui e agora, nesta nossa sociedade, abalada por uma crise feita de várias crises e em que importa impedir a divisão entre o Portugal mais velho e o Portugal mais jovem.Com visões, esperanças e desilusões, discursos muito afastados e, por vezes, contrapostos.
Ser-se cristão em Portugal passa, decisivamente, por essa luta contra essa divisão,e a desesperança, e o baixar os braços.
A coragem lúcida e humilde de Bento XVI e a simplicidade genuinamente despojada e votada aos mais sofridos e abandonados de Francisco servem de luz para este caminho diário. Em que, quanto mais temos, mais temos de dar.
O que não é nada fácil, nem cómodo, nem apetecível.
Mas tem de ser. Mais ainda hoje. Um ano depois da viragem histórica que vivemos na nossa Igreja sem nos termos apercebido do seu último alcance...

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