A opinião de ...

Os desafios da desconfiança

A partir de uma sondagem do ICS/ISCTE para o Expresso/SIC, dada a conhecer no pretérito dia 09 de junho, ficamos a saber que, sobre a confiança nas instituições, os portugueses em quem mais confiam é na Polícia de Segurança Pública, nas Forças Armadas e na Junta de Freguesia, por esta ordem.
Seguem-se o Presidente da República e as Câmaras Municipais.
Por outro lado, os Partidos políticos, o Governo e o Parlamento são as instituições de quem os portugueses mais desconfiam.
Num mundo altamente globalizado, será de pensar que a crise da representatividade nas democracias é, por variadíssimas razões, originada pelo populismo, pelo nacionalismo, pelo relativismo ou, em contraste com este, pelo fundamentalismo.
Contudo, outras leituras explicativas poderão ser realizadas. Destaco três.
Desde logo, a do fator proximidade e dele aduzo as caraterísticas mais significativas como o conhecimento das pessoas e da sua circunstância, das potencialidades e dificuldades dos territórios, do viver e conviver, ouvir, perceber e defender os cidadãos e as soluções para os seus legítimos anseios.
Outra leitura possível, é a de que os cidadãos, neste período e face ao contexto de incerteza e dificuldades, pelo aumento do custo do dinheiro, dos bens e serviços (como as casas), da manutenção dos salários baixos, da escalada vertiginosa dos impostos, do mau funcionamento e de incapacidade de resposta de qualidade de muitos serviços públicos, etc, a que até o tema do momento, a Inteligência Artificial e suas implicações não ajudam em nada a serenar, não gostam de quem lhes pode fazer assumir sacrifícios e austeridade para ultrapassar as dificuldades.
Por fim, coloca-se outra hipótese de leitura que é a de que os cidadãos igualmente não gostam de quem vai “assobiando” para o lado enquanto vê o barco a afundar-se e não faz nada para o contrariar só porque não quer ou não tem competência para tomar decisões difíceis e dessa forma desagradar. É o caso daqueles que governam precisamente pelas e para as sondagens, não tendo caráter nem coragem políticas.
Aqui chegados e como mais importante, nenhum responsável institucional e representante político se pode eximir ao imperativo de concretizar as necessárias novas formas dos cidadãos se relacionarem com as instituições e com eles próprios, usando de competência para fazer o que for considerado justo e necessário ser feito para a promoção do bem comum.
Nenhum se deve sentir seguro como se não tivesse necessidade de responder às mudanças e aos desafios sob o risco de se isolar num mundo paralelo e de ilusão.
Nota para a Igreja portuguesa que também não aparece nada bem nesta sondagem. Têm sido vários os seus erros, pecados e omissões. Porém, neste canto de Portugal, pequena porção do Povo de Deus, nesta Diocese de Bragança-Miranda, alegramo-nos e louvamos o Senhor pelo envio do nosso novo Pastor, D. Nuno Almeida.
Que o Espírito Santo o inspire e lhe dê força para que o Evangelho, a Palavra feita vida, seja o ponto de encontro de todos e ponto de partida do caminhar sinodal.

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3940

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