A opinião de ...

De uns e de outros

Já finalizaram as férias que, normalmente, podem servir para nos dar e com certeza nos dão, importantes vivências e experiências de múltiplas aprendizagens.
Como no decurso da vida de todos nós, mas especialmente nas etapas de desenvolvimento da personalidade e identidade das crianças e adolescentes, algumas semanas de atividades diversas, mais leves e lúdicas, de convívio e socialização, bem diferentes do esforço e determinação de corresponder ao processo de ensino-aprendizagem de um ano letivo inteiro, podem ser muito enriquecedoras.
Nelas, pode produzir-se assinalável evolução na maturidade. Aliás, são vários os exemplos que todos nós já presenciamos e conhecemos, principalmente aqueles que se dedicam, na sua vida, à missão de ser professor.
Daqui decorre a pertinência de que, em mais um começo de novo ano letivo, que há de ser de alegria e esperança, aconteça um exercício de diálogo e reflexão, não só em casa, mas sobretudo ao nível de sala de aula, sobre o experimentado nas férias e sobre o como e o quê ajudou a transformar no crescimento e no devir existencial de cada pessoa dos alunos.
Decerto que merecerá ser destacado o que aprenderam de seus pares, dos seus amigos e companheiros.
Tal ocasião apresenta-se como uma oportunidade à tomada de consciência, inclusive para os professores, de que a Escola é um espaço que não educa só na vertical, desde as crianças aos adultos, com relevância pedagógica dada ao currículo formal e às aprendizagens essenciais vinculativas.
A Escola é desafiada permanentemente a ir mais além, numa perspetiva horizontal, nos relevantes processos de aprendizagens, tantas vezes ocultos, entre os próprios colegas, seja na distinção dos gostos pessoais, na definição das interrogações existenciais e inclusive nos princípios e valores morais.
Aprender uns com os outros e de cada um dos seus colegas é ocasião propícia para aprender a escutar e a respeitar o ponto de vista do outro, até mesmo a colocar-se no lugar do outro e a ser mais fraterno e solidário.
É uma grande responsabilidade, nomeadamente nestes tempos de latente conflitualidade, de egoísmo e individualismo exacerbado, ser capazes de proporcionar uma educação significativa que parta das experiências de cada um e dos grupos onde se insere, incorporando as diferentes inteligências, emocionais, sociais e morais, desenvolvendo o entendimento e a cooperação.
À Escola pede-se que seja capaz de criar fundamentos de partilha e comunhão, de aprofundamento desta dimensão fundamental da pessoa humana e sua relação e cuidado com os outros, de modo a evitar manipulações, conflitos e divisões.
Que as questões ligadas aos meios e recursos das Escolas, agora também exponencialmente humanos, isto é, de falta de professores, somadas aos resultados e às avaliações, numa crescente preocupação economicista, não nos leve a deixar de questionar os fins da Educação a partir dos quais se devem orientar os processos educativos.
Queremos uma Escola que contribua para a causa da dignidade humana, ao serviço do bem comum, humanizando a educação, ajudando os alunos a situarem-se lucidamente com os seus pares, de forma a encontrar respostas ao sentido mais profundo e último da vida.

Edição
3952

Assinaturas MDB