A opinião de ...

Será que, finalmente, as coisas serão levadas a sério?

Atendendo ao antes, ao durante e ao depois do longo e fastidioso processo eleitoral que, por exageradamente longo, repetitivo e previsível, acabou por se transformar numa provocação despudorada à paciência e à inteligência das pessoas, tenho sérios receios de que as coisas acabem por não serem assim.

Passadas mais de duas semanas, tempo de sobra para que os figurantes de todo o processo tivessem manifestado a coragem e a humildade de fazer a própria auto crítica e assumirem as suas responsabilidades no cartório, os quais, em plena noite eleitoral e sem darem tempo a que a poeira pudesse assentar, a única coisa a que se apressaram, foi lavar a cara, numa tentativa ridícula e inconsequente de se reciclarem para poderem continuar a vender às suas indefetíveis clientelas o mesmo peixe descongelado de sempre.

Porque, como soe dizer-se, que “pela boca morre o peixe” e “os números não enganam”, a situação atual é o que é e, por mais que isto custe a digerir a muita gente, o mito que por cá se foi transformando numa espécie de dogma de fé inquestionável, de que na política os bons estão sempre à esquerda e os maus andam todos pelos caminhos da direita, foi varrido de cena pelo autentico tsunami provocado pelos resultados das últimas eleições, cuja primeira e grande consequência a curto prazo, terá de ser um profundo e inevitável reescalonamento do nosso sistema democrático.

Para quem ainda tiver dúvidas desta nova realidade, é bom lembrar que, nas últimas eleições, os cinco partidos, ditos de esquerda, apenas conseguiram eleger 92 deputados, enquanto que os três partidos, ditos de direita, conseguiram eleger 138, números estes que, como já referido, não enganam e que, na presente geometria eleitoral interna, condicionada por graves e imprevisíveis fatores de ordem externa, tornam altamente problemática a hipótese da constituição de governos, sejam eles de direita ou de esquerda aos quais, no atual contexto de guerras e de crises de toda a ordem, ninguém poderá assegurar as condições indispensáveis para o cumprimento dos programas com que se apresentarem a sufrágio.

Na presença de uma rotura desta ordem de grandeza, que rompeu com muitos dos conceitos e dos princípios que, durante décadas, moldaram a organização política dos povos, espera-se de todos, governantes e governados, que tenham o discernimento, a coragem e o sentido de estado indispensáveis para que, em conformidade com as possibilidades e as responsabilidades de cada um, possam ajudar a corrigir as assimetrias dum pequeno país como o nosso que, ao mesmo tempo que se orgulha de brindar o novo governo com os cofres do estado atafulhados com muitos milhões de euros, não tem vergonha de permitir que milhares de famílias com as dispensas vazias sobrevivam a pão e água ou da caridade alheia.

Para toda a grande família do “Mensageiro De Bragança”, com muita amizade, votos sinceros duma Santa Feliz Páscoa de 2024.

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