A opinião de ...

As árvores do pão

Segundo noticiou esta semana a Agência Ecclesia, a Comissão dos Episcopados Católicos da União Europeia (COMECE) pediu à nova liderança comunitária uma transição “justa e inclusiva” para a ecologia “integral”, que proteja as pessoas e o ambiente.

De acordo com a agência noticiosa da Igreja, os bispos sublinham a necessidade dar “atenção especial aos mais vulneráveis, levando em consideração os recursos limitados do planeta e a necessidade de um uso circular de materiais”.

O tema esteve no centro da assembleia de outono do organismo católico, que decorreu em Bruxelas, com a presença de D. Jorge Ortiga, arcebispo de Braga e delegado da Conferência Episcopal Portuguesa na COMECE.

“Sob o impulso da Carta Encíclica “Laudato Si”, do Papa Francisco, os bispos debateram como as políticas ecológicas da UE se podem centrar nas pessoas, famílias e comunidades, abordando os desafios mais cruciais em relação ao meio ambiente, aos mais vulneráveis, à demografia e ao desenvolvimento”, refere o comunicado final do encontro da COMECE, que decorreu entre 23 e 25 de outubro, citado pela Ecclesia.

Em declarações à Agência Eecclesia, D. Jorge Ortiga destacou a necessidade de centrar atenções na “emergência climática”, deixando votos de que todos os países da UE subscrevam o “Acordo Verde”, para “proporcionar as condições necessárias” para a vida das populações.

De acordo com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e à luz do Sínodo especial para a Amazónia, os bispos do COMECE instaram a UE a “tomar medidas ambiciosas para garantir a coerência nas suas políticas de comércio, desenvolvimento, clima e direitos humanos”.

Esta última citação encaixa na perfeição no período que, por estas semanas, se vive em todo o Nordeste Transmontano, de apanha da castanha.

O castanheiro, tido como “a árvore do pão”, como lembrou o bispo D. José Cordeiro na obra da sua autoria, publicada em 2014, é fonte de rendimento para muitas famílias da região e fator de fixação de população em territórios mais rurais. Quanto mais não seja, de forma sazonal.

Para além disso, é um dos elementos mais característicos da paisagem transmontana, apesar de a sua valorização económica só ter acontecido nos últimos anos, desempenhando um papel chave também ao nível ambiental.

Ora, numa região que é a principal produtora de castanha do país, continuam a fazer falta infraestruturas que se coadunem com o potencial económico amplamente reconhecido. Quer ao nível da conservação, quer ao nível da transformação e comercialização.

Em Espanha, já são notícia as incursões dos comerciantes portugueses, quando até há bem pouco tempo era ao contrário, com os comerciantes espanhóis a serem responsáveis pela compra de muita da castanha de Bragança e Vinhais.

Sem estruturas que valorizem uma das maiores riquezas da região, Trás-os-Montes assemelha-se à América Latina quinhentista, que viu sair toneladas do seu ouro rumo a outras paragens.

Enquanto não houver quem olhe para a fileira da castanha com olhos de ver a dimensão que o fenómeno atinge, não se sairá dos tempos arcaicos que a caracterizam e pouco condizentes com a modernização que vai sendo sentida. Por enquanto subsiste e pouco mais.

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