A opinião de ...

Santo Hilarião de Gaza – Pai do Monaquismo Palestino!

Num tempo em que a Terra de Israel era a Palestina e fazia parte da província romana Arabia Petraea (Província da Arábia); num tempo em que ser palestino significava pertença civilizacional herdada dos Fenícios, Israelitas, Jordanos, Libaneses, Sírios, Egípcios e até Romanos e Gregos; num tempo em que os maometanos ainda não tinham transformado o palestino em árabe e muçulmano; num tempo em que Terra era um pouco mais Santa e menos Sangrenta.

Num tempo em que … nasceu Hilarião, na aldeia de Thabatha, a 7km de Gaza (Palestina), em 291, de família pagã com posses. Rapaz talentoso e virtuoso foi estudar para Alexandria/Egipto, onde se converteu ao Cristianismo e ouviu falar do eremita Antão ou Antoine (251-356), homem integralmente devotado a Deus, vivendo em recolhimento em cela cavada na rocha. Curioso, foi ao deserto procurá-lo; impressionando-se com a sua vida ascética, trocou de roupa e tornou-se discípulo do santo ancião. Depois, munido simplesmente de uma túnica de pele que ele lhe dera e de uma capa de camponês, regressou às origens e tornou-se monge no deserto de Maïouma, a 10 km de Gaza. Com a morte dos pais, renuncia à herança, distribuindo-a pelos irmãos e os mais necessitados, tal como mestre havia feito décadas antes. Passou a viver isolado, levando uma existência ascética e austera, numa cela ínfima, cheia de nada e onde Cristo lhe bastava. Quando não sujeito a prolongados jejuns, comia do que produzia com a lavra da terra. A austeridade da sua vida, a santidade e a fama de taumaturgo (atribuem-se-lhe inúmeros milagres, exorcismos e curas) atraíram gente do campo e da cidade, cristãs ou pagãs, mas sobretudo monges e religiosos seculares, que se lhe juntaram na partilha da sua despojada vida santa. Curava muitos doentes com uma simples oração e o sinal da cruz e converteu milhares de pessoas através de sermões. Eram multidões ansiosas em seguir o seu radical modelo de vida. Por esse motivo fundou os Lavra (estabelecimentos monásticos), tornando a Palestina o terceiro centro cristão primitivo do eremitismo monástico, depois do Egipto e da Síria.

Mas Hilarião deu-se conta que perdeu sossego e a solidão na sua comunhão com Deus. Depois, irromperam as perseguições romanas de Juliano II, o Apóstata (361-363), que fez tábua rasa dos éditos de não perseguição aos cristãos determinados por Constantino (306-337). Então, após ter o seu mosteiro palestino profanado, partiu para o Egipto, a terra do mestre entretanto falecido, montado num asno e acompanhado de 40 monges, deixando o fiel discípulo Hesíquio a cuidar das lavras. Mas como o desassossego impeditivo de verdadeira vida ascética permanecia, foi para a Sicília, dali para o Peloponeso/Grécia e depois para a Dalmácia/Croácia, sendo recebido entusiasticamente por multidões cientes da sua santidade milagreira. Por fim, instalou-se nas imediações de Pafos/Chipre, onde finalmente encontrou a paz e silêncio e viveu os derradeiros anos da sua existência. E onde se encontrou com Santo Epifânio, bispo de Salamina e como ele natural da Palestina. Pressentindo o fim, escreveu a Hesíquio, deixou-lhe por testamento as roupas e os Santos Evangelhos e pediu aos presentes que lhe dessem sepultura no horto onde se encontrava. Assim foi em 371, aos 80 anos de idade.

Monge viajante, Santo Hilarião foi-o para além da vida. Ao saber da sua morte, Hesíquio viajou da Palestina para Chipre e levou os seus restos mortais para a Lavra de Nuseirat, em Maïouma/Gaza. Assim, «os cipriotas ficaram com o seu espírito e os palestinos com o corpo», onde os milagres continuaram a acontecer. A ser verdade, diz-se que as suas relíquias foram transladadas para Duravel/França por indicação de Carlos Magno, no início do século IX. Nos séculos XII/XIII, os Cruzados encontrariam em Gaza ainda uma muito viva devoção a Hilarião, testemunhado pela existência de uma Igreja dedicada a este santo eremita, local onde decidiram edificar uma fortaleza.
A festa litúrgica de Santo Hilarião é a 21 de Outubro.

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