A opinião de ...

Iluminar os outros com um espírito positivo

Em tempos difíceis, de se falar de religião, em virtude do Anticlericalismo [A] Republicano e, o fim da Monarquia Portuguesa, José Leite de Vasconcelos [1859/ 1941] refere que o Português parece não ser fundamentalmente religioso, embora a religião católica tenha nele grande influência, desde todos os tempos. O português “chasqueia” e “fustiga” o clero, com o espírito forte, de Gil Vicente, a António José, passando por Junqueiro [1850-1923]. A atitude A., desde sempre está presente na tradição cultural Portuguesa, mas em Junqueiro, na “A velhice do Padre Eterno” [1885], tem a sua expressão mais violenta, prolongando-se depois na “Pátria” [1896]. Estas obras foram apodadas como “o evangelho do A. em Portugal”.. “Olha, João, vê tu o nosso padre-cura:/ É, sem tirar nem pôr, uma cavalgadura”.
A maior tempestade anticlerical desencadeia-se fora do sistema cristão, com o antiteísmo, ou ateísmo dos séculos XIX e XX, suscitado pela franco-maçonaria, pelos movimentos liberais, pelos socialistas, com as revoluções do mundo moderno, com secularizações violentas. Dificuldades do passado que ainda hoje, vão tendo, aqui e acolá, alguma atividade latente.
A tendência laicista rejeita, por princípio, a influência da Igreja na esfera pública e, por outro o A. exaspera-se com a excessiva influência do clero. Numa sociedade aberta como a nossa, com a [relativa] autonomia das realidades temporais e, a sã laicidade, a Igreja não aceita ser excluída de exercer a sua influência no Mundo, na esfera pública, pois ela desempenha aí, a sua missão profética. São João Paulo II insiste que é errado reduzir o religioso à esfera exclusivamente privada, bem como orientar a mensagem cristã a uma salvação puramente ultraterrena, incapaz de iluminar a presença sobre a terra.
Pelo que se sabe, ainda ninguém passou um atesado de óbito ao A. contudo parece que ele deixou as luzes da ribalta no quotidiano da sociedade portuguesa, remetendo-se a episódios esporádicos, sem o alarme social de outros tempos.
Penso que o melhor antídoto para o A. é, voltar a Jesus tornando-nos especialistas do amor ao próximo e serviço aos outros. Voltar à eucaristia, para ensinar o amor, e ao lava-pés, para ensinar o serviço. Amor e serviço juntos, como diz o Papa Francisco, com sentido crítico, apurado humor.
Hoje, o humor crítico da Igreja Católica não vem só de fora dela, é também patrocinado pelos seus membros mais comprometidos, para combater os fundamentalismos, a hipocrisia, animar os espíritos retraídos, vencer a tristeza, a amargura, a melancolia, ou um perfil sumido, sem energia, a que por vezes a vida religiosa nos submete. Francisco exortar-nos a “viver com alegria e sentido de humor, sem perder o realismo, somos chamados a iluminar os outros com um espírito positivo e rico de esperança”.

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