A opinião de ...

Ainda a liberdade de expressão – a propósito do grande jornalista Rogério Rodrigues

Recentemente, abordei no Mensageiro o tema “liberdade de expressão”. Vem ao caso, abordá-lo de outra forma.
No dia 23 de Abril, foi homenageado o sócio cofundador da Confraria da Amêndoa sediada em Torre de Moncorvo – nem poderia ser noutra localidade, sejamos claros – o jornalista e poeta Rogério Rodrigues (RR), natural de Peredo dos Castelhanos, falecido em Outubro de 2019. Durante a realização do ‘capítulo’, com a presença de confrades e convidados, como é costume, esteve presente a viúva, Arlete Rodrigues, e o filho Diogo. Houve três intervenções acerca do momento dedicado ao Confrade falecido. O Neto Parra, natural de Freixo de Espada à Cinta, mas filho adotivo de Moncorvo, lembrou diversos episódios que, quanto a si, marcaram uma relação de amizade. O autor destas linhas teve oportunidade de lembrar que RR estabeleceu consigo um relacionamento muito próximo, ocorrido em diversas ocasiões, desde muito cedo, em circunstâncias que não vem ao caso referir. Somente mencionarei, porque o referi publicamente, o seguinte: a densidade das cartas que ele me escreveu de Paris, para onde partira, por opção, no ano de 1968. Cartas que são verdadeiros ensaios de um jovem de vinte e um anos. Cartas respeitosamente guardadas e convertidas para word pela minha mulher, porque RR tinha uma letra difícil. Um dia, disse-lhe que as conservava, ao que ele me comentou: olha, não as mostres ao meu filho Tiago, se não ele vai fazer uma peça de teatro…
Durante a cerimónia, por deferência da direção da Confraria, coloquei nas costas da Arlete a capa que pertenceu ao Confrade RR. Amizade e respeito pelo Amigo e pela grande Mulher.
No entanto, o que devo realçar é a intervenção do jornalista Henrique Monteiro (Expresso). Recordou diversos episódios vividos por ele próprio e pelo jornalista sénior RR, enaltecendo a sua escrita escorreita, atenta e socialmente inquietante. Não reproduzo tais episódios por não ter mandato de Henrique Monteiro para tal. Muitos outros colegas seus o recordam pela integridade de caráter e pela forma lúcida como apresentava os textos nos diversos jornais em que trabalhou. No entanto, é forçoso que relembre a defesa da liberdade de expressão, escrita e falada, responsável, assumida pelo grande jornalista (e poeta). Quando nos encontrávamos, o meu fascínio pela argúcia e pela sagacidade de observar e analisar a sociedade cresciam sempre. Cobria-se de um sorriso amargo sobre questões sociais, políticas e culturais; a qualquer proposta que lhe coubesse abordar, sendo-lhe colocada profissionalmente, ou pedida como opinião, arriscava “força”(!), mesmo que lhe parecesse inicialmente utópica. Não se coibia de investigar até ao tutano o que se lhe assemelhava dever ser conhecido e dado a conhecer. Procurava esmiuçar o que lhe parecesse socialmente indigno, ainda que aos olhos de outros fosse coisa de somenos.
Decerto que ele leu Milton, Stuart Mill, Agostinho da Silva, Jorge de Sena, Mariana Alcoforado, Sofia, Eça – autores de cartas de sabor distinto. Está ao lado dos grandes que pugnaram pela liberdade de expressão.
Por tais razões, bem andou a direção da Confraria em homenagear Rogério Rodrigues.

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