A opinião de ...

O trabalho como oportunidade

Creio que, por cada um de nós, uma grande parte do sentido da vida é atribuído ao trabalho.
Este adquire assim uma importância decisiva na realização pessoal, não só porque nos confere, pela remuneração que se espera justa, os rendimentos que nos permitam viver de forma digna, mas também porque nos faz sentir úteis e vinculados ao desenvolvimento da comunidade onde estamos inseridos e sermos respeitados por isso.
No entanto, na escolha do trabalho constata-se que a sociedade tem ido mais profusamente pela valorização dos ganhos económicos e financeiros e o estatuto social que dele advém e para o qual se andou a preparar para o exercer, do que propriamente pela valorização e a expressão dos talentos individuais.
Tende-se a ignorar que o trabalho abre oportunidades para que cada um apresente à sociedade as suas capacidades e os seus dons, de desenvolver as suas qualidades individuais como expressão de riqueza e dinâmica que cada um pode aportar, contribuindo para o bem comum e o desenvolvimento da própria sociedade onde está inserido.
Este lado sublime apresenta concomitantemente um outro urgente, o de ser permitido aos jovens, com base nas qualidades individuais poderem seguir os seus sonhos no trabalho escolhido, permitindo-lhes ter um sustento digno e decente além do devido reconhecimento social em Portugal, fazendo com que trabalhem para viver e não vivam para trabalhar ou então terem de escolher outro trabalho só porque a remuneração é mais digna e conforme às exigências de sustentabilidade ou mesmo terem de emigrar.
Desta forma, é pena que muitos jovens, especialmente, não possam seguir os seus sonhos porque o trabalho por si a ser escolhido não comporta uma remuneração digna, justa e o reconhecimento social.
Quantos jovens se dedicam à agricultura, à pecuária, à agropecuária, à horticultura, à silvicultura, ou então à música, à pintura, à escrita, à dança e a outras artes no nosso país?
Até já a certas profissões como Professor, como estamos a sentir e a sofrer, muitos jovens nem sequer as colocam como hipótese!
Como todos nós não esperamos viver sem trabalhar, dependendo de outros, e como o trabalho não é só para ganhar dinheiro, porque senão estar-se-ia mesmo a arriscar demasiado na realização pessoal e na felicidade almejada por cada um, é necessário mudar ainda muitas mentalidades no nosso País para que se passe a valorizar e a dar crédito aos diferentes trabalhos escolhidos e realizados por escolha decorrente das aptidões e qualidades individuais.
Com certeza que subscrevemos o que Steve Jobs, um dia, dirigindo-se a jovens universitários, afirmou “o teu trabalho vai preencher uma grande parte da tua vida, e a única maneira de ficares realmente satisfeito é fazeres o que acreditas ser um grande trabalho. E a única maneira de fazeres um grande trabalho é amares o que fazes”.
Quaisquer que sejam as tendências ligadas aos empregos de agora e do futuro, com foco na inovação, transição digital e sustentabilidade, no empreendedorismo verde e social, passando pelas áreas da inteligência artificial e da robótica, etc, correspondendo a um desenho de um mercado de trabalho próximo muito moldado por profissões que há poucos anos não existiam, importa não só estar conhecedor e preparado para elas mas sobretudo sejam tidos em conta os dons, os talentos, as capacidades e as qualidades individuais.
MaIs a mais, para o desenvolvimento de um território como o nosso, esta preocupação presente e latente de garantir a possibilidade de realização pelo trabalho qualquer que seja a escolha, para todos, é também essenci

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