A opinião de ...

Um inédito de A. Feijó dirigido à Guilhermina de João Sarmento Pimentel

A principal correspondência de António Feijó (Ponte de Lima, 1859), nosso embaixador em Estocolmo, onde morre (1917), em posse do escritor montalegrense José Dias Baptista é dirigida ao conselheiro dr. António de Barbosa Mendonça, Casa de Rande, Longra, Felgueiras. O nome próprio é mais extenso (dedicatário em versos de Feijó, inscreve segunda preposição: António de Barbosa de Mendonça), e assim a sua intervenção cívica, sobrevindo (1938) ao amigo e à filha Maria Guilhermina de Barbosa Mendonça (1889-1912), a qual tem devoção popular nas redondezas.
Um dos autógrafos é “Sobre o rio Tchou – / – Do poeta chinez Thou-Fou –”, no Cancioneiro Chinês (1890, 1903), e, nas Poesias Completas (1939, 1940?, 2004), reduzido ao título “Sobre o rio Thchú”. Datado de «Coimbra, 10-4-83», comporta variantes assinaláveis.
A razão desta prosa, contudo, é uma Carte postale / Postkarte enviada a Maria Guilhermina, a passar férias na Filial do hotel Luso-Brazileiro, Póvoa de Varzim. Se o carimbo sobre o selo é ilegível, a data sob duas quadras e assinatura é de 8/9/910, seguindo-se terceira quadra, ausentes de Poesias Dispersas e Inéditas (2005), como 2004 curadas por J. Cândido Martins para as Edições Caixotim. Transcrevem-se as duas primeiras:
«Ao despontar d’aurora, a luz do dia / Envolve a terra n’um casto e doce enleio, / Brotando encantadora do seu seio / A vida n’um sorriso de alegria. // Mas quando dos seus raios a emergencia / Faz sorrir jovial a natureza / A mim faz-me chorar. É a tristeza / Que só me póde dar a tua ausencia…»
A terceira quadra, menos entrelinhada e de redacção microscópica, reza:
«Desculpae, senhora, o atrevimento / De vos mandar esses versos, que escrevi / Levado por um tão nobre sentimento, / Como nunca em meu peito outro senti.»
Feijó estava casado, desde 1900, com uma sueca (1878-1915) – e de D. Mercedes possui José Dias Baptista cartas escritas em francês –, pelo que, e também dada a relação com o pai de Guilhermina, não devemos interpretar aqueles versos como uma qualquer inclinação amorosa. Tanto mais que (e posta de lado a estranheza da declaração na terceira quadra) Guilhermina queria unir o seu destino a João Sarmento Pimentel (1888-1987)…
Com efeito, em Memórias do Capitão (1962, 1974), há um longo capítulo dedicado a “Guilhermina” (1974: 107-140), fundamental para acompanhar o jovem cadete na Revolução do 5 de Outubro, na Rotunda. Sem A. Feijó e a importância do conselheiro, a jovem passava-nos despercebida: era «uma amizade que vinha desde meninos» (p. 113), até ao «namoro com um republicanão» (p. 110) detestado pela mãe da futura noiva. A tísica, porém, estraga os planos do nascido em Mirandela, cuja evocação comovida de um amor, intervalada por ausências em Coimbra e em Lisboa, prova bem que laços fortíssimos os uniam.

Edição
3806

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