Pobres
A Diocese de Bragança vai criar um gabinete especial dedicado aos pobres no geral levando em linha de conta as crescentes manifestações de penúria que envolvem indigentes, desempregados, idosos e envergonhados.
Já na Idade Média a Igreja contemplava com géneros ou dinheiro os envergonhados que foram e deixaram de o ser, porque a roda da fortuna redundou em azar, porque as empresas faliram, ainda porque foram vítimas da cupidez e maldade dos outros quantas vezes de familiares chegados.
Já o escrevi e já o disse; a Igreja enquanto milenar Instituição cometeu e continuará a cometer erros de tomo, no entanto, no cômputo geral a sua notabilíssima obra mormente no apoio social a toda a casta de gente incluindo os não crentes é de extraordinária grandeza.
Autores insuspeitos o provam em obras sustentadas em documentação rigorosa, os mosteiros eram centros dessa hospitalidade que abrangia o tratamento dos doentes e o gasalho dos viajantes e peregrinos, os conventos de lazaristas defendiam e tratavam os desgraçados atacados pela lepra (S. Lazaro é o patrono); o clero secular e regular também procedia do mesmo modo existindo numerosos exemplos de o fazer a expensas próprias. Pois, e as Misericórdias davam e dão de comer a quem tem fome, de beber a quem tem sede e por aí adiante.
Dos tempos medievais até agora decorreram muitos séculos, apesar do progresso técnico no referente à pobreza continuam a existir enormes chagas a nível mundial, e quem diria: no mundo Ocidental, o da opulência, do bem-estar, a megera alastra qual peste da época das matracas anunciando os possuídos pelo terrível mal.
Dá que pensar sobre o presente e acima de tudo acerca do futuro.
Existirá futuro decente para todos daqui para a frente? Talvez fosse bom pensarmos seriamente sobre o modo como o devir desenrolará o calendário tendo em conta as sombrias perspectivas exemplificadas na iniciativa anunciada por D. José Cordeiro.
Aproveito o ensejo e atrevo-me a pedir-lhe que leve a cabo uma iniciativa tendente a pensarmos o modo de respondermos aos maléficos efeitos da crise não no sentido de julgarmos os seus fautores, a história os julgará, sim de forma a sairmos do atoleiro da carência e da miséria. Ao saber da sua iniciativa obriguei-me a reler Huizinga, Le Goff, Duby e Fortunato de Almeida.
No referente a apoio aos pobres só evoluímos na forma, no conteúdo fiquei possuído da sensação de pouco termos feito de melhor relativamente ao passado. Séria vergonha para todos nós.