A opinião de ...

Notícias da polícia na guerra

As notícias da guerra de Ucrânia, feita pela Rússia, sobretudo a fuga massiva de pessoas que abandonam o país e passam as fronteiras para os países vizinhos que recebem da melhor maneira possível, mostram-nos a crueldade da guerra. A elevada destruição das cidades mais atacadas pelo exército russo e instalações críticas, de acordo com as prioridades definidas pelo tirano Putin, “o senhor da guerra” e a quantidade de ucranianos que têm que abandonar as suas casa e fugir para outros locais ou simplesmente esconder-se, ainda que temporariamente, em bunkers e outros abrigos, demonstram a brutalidade do uso das armas. As mortes que vão sendo divulgadas, apesar do segredo da informação que passa para a opinião pública e da procura das autoridades em não deixar aceder os jornalistas aos locais onde se verificam os bombardeamentos, são a prova da violência e atrocidade desta guerra.
Por falar em autoridades surgiu-me a questão de saber qual o papel da uma polícia civil numa situação de guerra. Em concreto: Qual é a missão da polícia civil ucraniana, nesta situação de guerra declarada em que o país está a ser invadido e conquistado pelo exército de um país vizinho, estrangeiro e inimigo. Em teoria, no ensino académico das escolas de polícia, dizemos com frequência que “a Polícia não tem inimigos, apenas adversários” e queremos fazer desta frase um chavão, no sentido de que todas as pessoas são dignas de respeito na sua relação com a polícia no decurso da sua atividade de segurança diária. Mas, neste caso, está em causa a soberania do Estado. A principal e primeira obrigação de defesa compete às Forças Armadas. Mas a defesa é, ao mesmo tempo, uma obrigação de todos os cidadãos, como se tem visto. Todos podem desempenhar tarefas que não sendo diretamente de defesa são complementares, como a ajuda aos mais necessitados, na mobilidade e deslocação dos que estão em maior perigo, o apoio no transporte de bens alimentares, de saúde, etc.
Já as polícias civis, nesta situação de guerra também têm o inimigo que é o mesmo de todo o povo. Mesmo assim esse inimigo nem sempre está bem identificado. Há infiltrados nas cidades em busca de informação para o inimigo. Os polícias poderão integrar unidades de defesa urbana conjunta com forças armadas. Prestar apoio a todos os serviços ligados à proteção civil e de socorro aos cidadãos, em especial os relacionados com a sobrevivência das pessoas em situação crítica. Tem-se falado muito na abertura de corredores humanitários que permitem a evacuação de um número significativo de pessoas civis de cidades que estão a ser devastadas pelos bombardeamentos e onde o perigo de vida é muito elevado. Certamente a organização e operacionalização dos comboios humanitários pode ser uma missão da polícia civil.
Chamou a minha atenção para o papel da polícia nesta guerra na Europa, que não tem sido muito evidente nas notícias, o apelo de um agente isolado, num momento de elevado desespero, num cenário de destruição e chamas, entre os escombros da cidade mártir de Mariupol e comparando-a à cidade de Alepo, na Síria, em que solicitou ajuda militar aos presidentes da América e da França referindo que a cidade estava “a ser varrida da face da terra”.

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3877

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