A opinião de ...

Nós, o vírus e o ambiente

Tenho andado à volta deste bitcho que tanto nos preocupa. A todos. As razões são consabidas: está o bitcho entre nós, e nós tentando combatê-lo com as armas de que dispomos, seja aplicando as medidas tradicionais (máscara, distância física e social e lavagem das mãos), seja administrando a vacina, que, apesar de alguns descaramentos irresponsáveis e nada éticos, está num ritmo e numa correção muito aceitáveis.
É verdade que, de um modo geral, temos sabido comportar-nos porque urge travar a doença, de modo a recuperar a normalidade que será atingível num prazo mais ou menos longo – algo que nem os cientistas sabem calcular verdadeiramente. Mas é também verdade que não sabemos usar da nossa supremacia enquanto seres pensantes que somos (homo sapiens sapiens – o homem sabe que sabe – não apenas homo sapiens, conceito que exibe um sentido redutor). Estou a convidar os leitores a uma pequena reflexão: a de estabelecer a ligação entre pandemia e ambiente. Exatamente por causa do reduzido esforço que temos feito relativamente à deposição das máscaras e luvas na via pública, nos espaços verdes, nas ruas, nos jardins, nas praias…Aliás, um mal que tem contornos vários, antigos, e não apenas por ter ocorrido esta pandemia.
Ora, a propósito desta incomensurável situação, moléstia para o ambiente na sua globalidade, e onde todos estamos envolvidos, ocorreu-me lembrar o romance O Triunfo dos Porcos do escritor George Orwell, cuja narrativa anda à volta das críticas que os animais fazem à tirania do Homem, culpada pela existência miseranda e exploração desbragada do ser inteligente sobre os outros animais. Ao ler-se o livro, ficamos com a percepção clara de que se trata de uma rebelião forte, traduzida em atos que afastam o dono de uma quinta, e que tem uma palavra de ordem: "quatro pernas, bom; duas pernas, mau". Há como que uma rebelião contra o que está mal, quer quanto à maldade humana, quer quanto ao ambiente. Infelizmente, com o passar do tempo, a rebelião que tinha um objetivo de ‘humanização’, acaba por se transformar num modelo similar ao que o homem produzira com a sua tirania. A ponto de uma das personagens, o cavalo Clover reparar, aflito e horrorizado, que a cara dos porcos é igual à cara dos homens! Naturalmente que Orwell pretendia referir-se ao totalitarismo, seja qual for a sua dimensão e natureza, incluindo [entendo eu] o consumismo exacerbado, causador da poluição por lixos sólidos que fazem adoecer a Natureza.
E lembro, igualmente, A Revolta dos Animais (destinado aos jovens e não só), cuja autoria é de quem escreve esta crónica. Nela pretendi, ficcionando, mostrar quanto o Homem tem feito de errado e errático relativamente à Natureza da qual faz parte, mas de cujo perigo, aliás bem diagnosticado, se esquece facilmente. E deixa de ser pensante refletido para ser mandante insensato, deixa de pertencer ao Planeta para superiormente o desrespeitar. Nesta narrativa ficcional, os animais juntam-se, através dos representantes das várias espécies, no Pártenon, pedem auxílio aos deuses, sinalizando concretamente que a Natureza está morrendo e a situação atingiu o limite, porque os homens provocam males que ameaçam seria e definitivamente o ambiente. Os mares, na sua imensidão, e os continentes, tão diversos, a sul e a norte, a ocidente e a oriente, e a atmosfera mais alta ou mais baixa, choram e clamam equilíbrio ambiental. Assim os animais e as plantas reclamam respeito e ação rápida junto da autoridade suprema – a ONU.
O que nos reserva o futuro, em termos ambientais? Futuro pouco recomendável, agora ainda mais prejudicado com a poluição provocada pela ação, no mínimo descuidada, se não mesmo culposa, do Homem, que não deposita devidamente os meios de proteção pela presença da COVID19, após o uso. Aqui fica este aviso. Para todos nós.

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3823

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