Nordeste Transmontano

Doentes e familiares alarmados com possível corte dos tratamentos de hemodiálise em Trás-os-Montes

Publicado por Fernando Pires em Qui, 2022-10-27 11:02

Depois de a clínica que assegura tratamentos de hemodiálise a mais de 230 doentes transmontanos ter denunciado a existência de uma dívida de quatro milhões de euros de empresas estatais que pode colocar em causa a continuação da prestação deste serviço convencionado pelo Serviço Nacional de Saúde, é bem evidente a preocupação nos utentes à chegada à clínica renal de Mirandela para mais uma sessão de quatro horas de tratamento.

“O Governo tem de olhar por nós, por amor de Deus olhem por nós”, dizia Judite Martins, que três vezes por semana desloca-se do Pocinho, no distrito da Guarda, até Mirandela, uma das três clínicas geridas pela TECSAM. As outras duas são em Mogadouro e Vila Real.

De Vila Nova de Foz Coa, vem há 14 anos consecutivos, Alzira Marçal, que não vê outra alternativa se este centro renal de Mirandela deixar de fazer o tratamento. “É aqui que tenho de ficar porque estou muito contente com todos, com os médicos, enfermeiros e com todos os doentes, porque para mim já é uma família”, afirma esta doente com insuficiência renal: “Sem isto já não posso viver”, acrescenta.

Também Marília Ruivo, do concelho de Macedo de Cavaleiros, ficou alarmada com as notícias. “Não sei como vai ser se isto fechar. Para ir para o Porto fica muito longe”, afirma esta doente hemodialisada.

Quanto à resolução do problema, o diretor executivo da Tecsam diz não ter recebido qualquer novidade da ARS Norte, da ULS do Nordeste e da ULS da Guarda, as entidades que repartem a dívida de 4 milhões de euros. “Telefonemas, só tivemos mesmo de vários familiares de utentes que fazem os tratamentos nas nossas clínicas preocupados com a possibilidade de interrompermos aqui a prestação do serviço e pelo facto de a alternativa não ser a mais agradável, já que possivelmente só conseguiriam vaga no Porto”, revela Jorge Cruz,

Entretanto, a Unidade Local de Saúde do Nordeste reagiu às declarações do diretor executivo da Tecsam que reclama daquele entidade que gere os hospitais e os centros de saúde do distrito de Bragança cerca de três milhões de euros em atraso. Informa que “está a desenvolver todos os esforços, em articulação com as entidades envolvidas, com vista à mais rápida regularização possível da situação em causa”.

Também a ARS Norte respondeu em nota enviada à Lusa, referindo que “está a trabalhar com as instituições competentes no sentido de que, com a maior brevidade possível, seja liquidado o valor da dívida ainda existente junto do fornecedor em apreço”.

Até ao momento, não há ainda uma reação da parte do Ministério da saúde, nem da ULS da Guarda.

 

Ministro promete pagar tranche

 

O Ministro da Saúde garantiu, no domingo, numa entrevista à Antena 1 e ao Jornal de Negócios, que, “nas próximas semanas”, será feito o pagamento de uma tranche dos 4 milhões de euros que o SNS tem em dívida para com a empresa Tecsam. “Isso será resolvido de forma cabal nas próximas semanas. Haverá um apoio de tesouraria para resolver os casos mais candentes e depois haverá uma resolução estrutural para este problema no contexto da resolução global da dívida”, adiantou Manuel Pizarro aos dois órgãos de comunicação social.

Entretanto, a Tecsam garante que ainda não recebeu qualquer verba, mas recebeu a informação da ULS do Nordeste de que em breve deverá pagar o valor correspondente a cerca de 10 por cento da dívida total àquela empresa, que ascende a três milhões de euros, montante que já permite continuar a assegurar não só os tratamentos mas também acautelar o pagamento dos salários do mês de outubro aos cerca de 150 funcionários distribuídos pelas clínicas de Mirandela, Mogadouro e Vila Real.

 

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