Nordeste Transmontano

Clínica de diálise em risco de fechar por falta de utentes encaminhados pelo SNS

Publicado por Fernando Pires em Qui, 2023-07-20 10:55

Uma clínica de hemodiálise (TECSAM) de Vila Real (mas que presta serviços no distrito de Bragança) que tem a prestação de serviço convencionado com o Estado, há mais de 20 anos, está em risco de fechar e deixar no desemprego cerca de 30 funcionários.

A explicação é a falta de utentes, que antes eram encaminhados pelo SNS, porque o público não tinha capacidade de resposta, mas isso deixou de acontecer há mais de dois anos, vindo a diminuir o número de utentes para cerca de metade. Atualmente, tem 40 utentes diários mas não chega para as despesas.

Há mais de duas décadas que o Grupo Tecsam tem vindo a prestar serviço de hemodiálise a mais de duas centenas de doentes com insuficiência renal de Trás-os-Montes que tem vindo a ser assegurado por três centros renais privados – em Mirandela, Mogadouro e Vila Real - com quem o Estado tem a prestação do serviço convencionado.

Em outubro do ano passado, a administração da Tecsam tornou público que estava a atravessar uma grave crise financeira muito por culpa das entidades estatais que já acumulavam uma dívida superior a 4 milhões de euros.

Passados nove meses, a dívida passou para metade, mas, agora, surge um outro problema. O SNS deixou de enviar utentes para a clínica de Vila Real, vindo a diminuir o número de utentes de 80 para 40. “Sensivelmente, há dois anos e meio que não temos entradas de doentes crónicos na nossa unidade de diálise e é uma preocupação muito grande, porque neste momento a nossa capacidade reduziu para cerca de metade, estamos neste momento na linha vermelha e a colocar a hipótese de ter de fechar a unidade com muita pena nossa, porque desde que houve a criação de um CRI no Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro não entra um único doente”, afirma Pedro Azevedo, da administração da Tecsam.

Lamenta ainda não ter nem a oportunidade de negociar a situação com a administração do Centro Hospitalar de Trás-os-Montes, uma vez que ao longo dos anos prestou um serviço para o qual o Estado não tinha capacidade na região. “Somos complementares ao centro hospitalar, surgimos há 20 anos para dar resposta a uma carência na região, empregamos cerca de 30 colaboradores que dependem de nós e neste momento é com uma dor forte, um aperto grande, ter esta consciência de que temos mesmo de fechar se entretanto, não surgir uma alternativa para este problema”, acrescenta.

Os cerca de 30 funcionários correm o risco de ficar sem emprego. Rui Ferreira e Olga Fernandes, são casados, têm dois filhos. Trabalham na clínica há duas décadas e não escondem a enorme preocupação com o futuro. “Muita ansiedade, sem saber como é que vai ser daqui para diante e ainda por cima compramos casa há pouco tempo e é complicado”, refere Olga. “Não sabemos se vamos pagar as contas se não vamos, o futuro do nosso empréstimo se vêm buscar a casa ou não vêm. A gente fez as nossas apostas para o futuro, temos os nossos filhos, um quase a entrar na universidade e uma mais pequena, é muito complicado”, confessa Rui. “Temos um serviço e os utentes todos os dias nos dizem que somos uma família e é um bocadinho difícil deixar isso e entender o porquê. Estes anos todos servimos e agora não vamos servir é um bocadinho difícil entender o porquê”, diz Olga Fernandes.

Também Joaquim Carneiro, utente, não está nada contente com a possível mudança para outra unidade. “Há uma disparidade muito grande entre o serviço público e o serviço privado, pelo que tirar o serviço daqui para ir para o público é estar a dar um serviço mais degradado para os próprios utentes que necessitam dele”, sustenta.

É este o cenário: 40 doentes hemodialisados podem vir a ter de mudar para outra clínica e 30 funcionários à beira de perderem o emprego na clínica Tecsam de Vila Real.
O Mensageiro contactou a administração do Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro para perceber as razões de deixar de encaminhar utentes para a clínica Tecsam de Vila Real, tal como aconteceu durante duas décadas.

A resposta veio por escrito. Aquele Centro Hospitalar refere que, atualmente, com a criação do CRI – Centro de Respostas Integradas - de Diálise “tem capacidade instalada para tratar todos os doentes que coloca em hemodiálise”, pelo que não há necessidade de os colocar em outros locais, acrescenta.

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