Nordeste Transmontano

Biografia de Camilo de Mendonça em publicação assinada pelo filho

Publicado por Fernando Pires em Qui, 2023-07-20 10:44

Foram 1500 documentos de Camilo de Mendonça, “o pai do Complexo Agro-Industrial do Cachão”, que deram origem ao livro com a sua biografia, escrito pelo filho Álvaro de Mendonça.

Depois de ter sido apresentado, na Casa de Trás-os-Montes e Alto Douro, em Lisboa, e na Biblioteca Municipal Adriano Moreira, em Bragança, o livro foi apresentado em Mirandela, no fim de semana, e novamente na Escola Superior Agrária do Instituto Politécnico de Bragança, na segunda-feira.

Em Mirandela,  a cerimónia  decorreu no passado sábado, no Museu da Oliveira e do Azeite.

O livro retrata as origens familiares do engenheiro agrónomo, a sua personalidade e os passos para a criação do Complexo Agro-industrial do Cachão.

Para Álvaro Mendonça, o seu pai foi uma pessoa “bastante importante para a política agrícola” e responsável por trazer desenvolvimento para a região transmontana. “O Cachão teve 1200 pessoas que trabalhavam em Frechas mas o Cachão criou cooperativas em todos os concelhos do distrito de Bragança e Vila Real. Essas eram cooperativas com azeite, vinho, algumas tinham armazéns para batata, tinham produção de cogumelo, tinham armazéns para peras e maças, por isso foi toda a região arrastada como um todo, foi pensada no conjunto. E mais que agricultura, em termos de ensino foi pensado os primórdios do Instituto Politécnico e da Universidade de Trás-os-Montes foram pensados e projetados nessa altura”, lembra.

Álvaro Mendonça justifica a decisão de escrever o livro por não haver nada que documentasse a história de vida do seu pai. “Não há nada escrito a não ser pequenas passagens em alguns livros, umas linhas, e tinha em casa uma tonelada de documentos que lhe pertenceram e que seria a única hipótese que havia de documentar uma história de vida que precisava de ser contada”, refere.

Vítor Correia, vereador do município, destaca a importância que este livro tem, não só para o concelho de Mirandela mas também para toda a região. “Estamos a falar de uma figura incontornável do nordeste transmontano e compete-nos também a nós, município de Mirandela, fazer parte na sua divulgação e no acolhimento do livro. Ficará para a história, o seu filho, o Dr. Álvaro Mendonça, quis deixar este legado para os mais novos que não conhecem a obra e mesmo para os mais velhos para recordarem que foi um homem, um visionário e na altura ele até era considerado um adiantado mental, faço a expressão, para a época”, adianta.

O livro foi baseado na documentação que o autor e os irmãos tinham em casa, tendo sido oferecida ao arquivo distrital para ser disponibilizado a população em geral dentro de meio ano. Será também publicada, no final do verão, aquilo que foi retratado nas palestras que se realizaram em 2021 na altura das comemorações do centenário do nascimento de Camilo de Mendonça.

Figura Notável

Camilo António de Almeida da Gama de Lemos de Mendonça, nasceu a 23 de julho de 1921, em Vilarelhos, concelho de Alfândega da Fé, vindo a falecer em abril de 1984, com 62 anos.

Foi um engenheiro agrónomo, político e dirigente cooperativo que se notabilizou como o principal impulsionador da construção do Complexo Industrial do Cachão, na década de 1960, um empreendimento agro-industrial que contribuiu para revolucionar a agricultura tradicional do nordeste de Portugal, com o redimensionamento das propriedades agrícolas, a mecanização, a introdução de novas culturas, a criação de cooperativas agrícolas, a comercialização de produtos e a extensão do regadio a uma vasta área, suportado pela construção de 130 barragens de terra.

Entre 1975 e 1978, como consequência da Revolução do 25 de Abril, o projeto entrou em colapso. Apesar disso, ficaram diversas fábricas, algumas das quais vieram a encerrar posteriormente, bem como algumas barragens.

Dada a sua ligação ao regime do Estado Novo, tendo sido próximo de Marcelo Caetano, Camilo de Mendonça optou pelo exílio voluntário no Brasil, Por lá, assistiu ao desmantelar do Cachão que funcionou até à década de 1980 e chegou a empregar cerca de mil trabalhadores.

As Câmaras de Mirandela e Vila Flor pegaram no antigo complexo e estão a tentar revitalizar o espaço com um plano de recuperação ambiental e de base tecnológica.
Camilo de Mendonça regressou a Portugal doente, e morreu, em Oeiras, em 1984, com 62 anos de idade.

Foi presidente do Grémio de Importadores e Armazenistas de Azeite e da Junta de Exportação do Café e foi também o primeiro Presidente da RTP-Rádio Televisão Portuguesa- entre 1956 e 1959.

Foi deputado à Assembleia Nacional, pelas listas da União Nacional, em três legislaturas com enfoque na situação económica e social do interior do país.

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