A opinião de ...

Realidade e ficção

Espaço 1999 era uma série televisiva de culto dos anos setenta. Não me lembro de perder nenhum episódio. Já antes desta havia uma outra, se a memória não me atraiçoa seria 2002 controle que me levava religiosamente ao Flórida, na Praça da Sé, todos os Sábados à noite para a ver, enquanto bebia, invariavelmente água das pedras com limão e açúcar. Ficava impressionado com a parafernália tecnológica apresentada. Computadores  gigantescos com milhares de luzes a piscar, sistemas potentes e complexos de comunicação e toda uma plêiade de utensílios e sistemas eletrónicos que me deixavam completamente esmagado pela capacidade inventiva e preditiva dos geniais argumentistas. E, contudo, passado pouco tempo, em poucas dezenas de anos, qualquer telefone de última geração concentra tudo isso, nuns poucos centímetros quadrados de tecnologia sólida, com facilidades então nem sonhadas. Nada como recorrer, mais uma vez, ao velho lugar comum a que a sociedade de informação já nos habituou: a realidade ultrapassou, largamente a ficção!
 
Mas nem sempre isso acontece. Pelo menos com esta velocidade. Como nos livros de Júlio Verne. Como nos desenhos e planos de Leonardo da Vinci. E de muitos outros que não sei, nem tenho notícia, sem desprimor para os brilhantes argumentistas das séries de ficção que me fascinavam (e ainda fascinam). Acontece tão só que para lá do brilhantismo reservado a poucos há a genialidade a que pouquíssimos desses podem ascender. Grande é a galeria dos heróis, mas restrita é a galeria do Olimpo.
 
A internet é das invenções mais extraordinárias da época atual. O seu desenvolvimento alcandorou-a a níveis muito para além da ideia visionária de Tim Berners-Lee, em muitas das suas características. O que era “apenas” um projeto de cooperação universitária, tornou-se numa ferramenta universal, evolutiva e democrática. Um repositório universal de conhecimento e partilha. De tal forma que alberga dentro de si várias aplicações, ferramentas e outros repositórios com objetivos concorrentes mas mais específicos e com organização mais afinado. Refiro-me, entre outros à wikipédia. Ora, relativamente a esta e contrariamente aquela, apesar da sua invenção formal seja de Jimmy Wales, encontra-se espelhada, regulada, descrita na maravilhosa ficção de Jorge Luis Borges: A Biblioteca de Babel. Ainda por oposição, a realidade está muito longe de tocar de perto a teoria borgiana. Basta verificar que apesar de existir, desde sempre, no universo descrito pelo escritor argentino, esta minha crónica não fará parte da wikipédia e a sua existência no ciberespaço apenas será realidade depois de publicada no Mensageiro de Bragança.
 
Promover e divulgar a sua obra é a melhor forma de homenagear um autor.

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3507

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