A opinião de ...

O Avião e o Túnel do Marão

Desde que foi anunciada a retoma das obras do tunel do Marão, tem circulado, juntamente com essa notícia, um comentário vincando a economia que terá acompanhado a nova adjudicação. Mais de cinquenta milhões de euros, dizem. Não estou assim tão certo.
 
Vejamos, só há duas opções: o túnel é de utilidade pública ou não é. Se não é, não deve ser construído. Neste caso a poupança seria muitíssimo maior pois alcançaria a totalidade do preço base anunciado. Se, pelo contrário é, não só útil, como necessário, como eu julgo ser consensual, então é porque a sua construção desempenha uma função necessária e conveniente. Função que não é de agora. Portanto o atraso na obra impediu que essa função fosse usada, usufruída e aproveitada por todos os utentes a quem se destina, durante anos. E isso tem um custo. Se vêm falar de poupanças então é necessário que no balanço seja adicionada a parcela do custo da não construção.
O Estado poupou, grosso modo, cinquenta milhões aos contribuintes. Seja. Mas o mesmo Estado impôs aos mesmos contribuintes, durante largo período de tempo, custos adicionais ao obrigá-los a percorrer as curvas maronesas da IP4, em tempo perdido, em desgaste dos veículos e em excesso de combustível. Não devendo esquecer o custo associado à perda de oportunidade. Quantas pessoas deixaram de visitar Trás-os-Montes porque a distância é superior à expetável? Quantos turistas rumaram outras paragens por não quererem enfrentar a neve, gelo e nevoeiro do Alto de Espinho?  Quantos negócios poderão, num mundo globalizado e altamente competitivo, ter ficado prejudicados por custos acrescidos devidos ao atual percurso no transporte de mercadorias? Sem esquecer os empregos perdidos e das empresas que o encerramento levou à falência!
 
Será difícil chegar a um valor exato, embora seja possível fazer uma aproximação, para alguns destes custos. Outros porém, são de fácil aproximação. Sabe-se quantos carros rodam, diariamente no IP4 e qual a quilometragem excessiva. Basta multiplicar pelo consumo médio. Em tempos de tanta descredibilização da classe política, fazê-lo, seria uma nota de honestidade num governo que se autoproclama de rigor e verdade.
 
Não vou repetir o custo das oportunidades relativamente à ligação aérea Bragança/Lisboa. Já muitos vieram alertar para as diferenças entre a anterior rota e a atual, com escala em Viseu e destino o aeroporto de Tires em vez da Portela. Foram também muitas as declarações de regozijo, a que, com agrado me associo. É verdade que mais vale tarde que nunca e, sem dúvida que é olhando para o futuro e não para o passado que se constrói o necessário desenvolvimento regional.
O que entendo que tem de se realçar aqui, é outra questão. Sendo certo que é importante que a ligação se faça, se estabeleça e enraíze, também é importante marcar uma posição. O tempo que o nordeste esteve sem ligação aérea não pode ser esquecido. Para memória futura! É bom dizer que não é admissível que seja prejudicada toda uma região e que basta repor a situação anterior, em ano elelitoral, para que se passe uma esponja sobre o passado. Sem que haja sequer um mea culpa. Admitir isso significaria dizer que os eleitores estariam dispostos a serem feitos gato sapato e que nada aconteceria depois desde que houvesse uma reversão, no final do ciclo político. Ora isso, a meu ver, é absolutamente inaceitável. Venha de onde vier.

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