A opinião de ...

O ranking da manipulação

Ano após ano, a Direção Geral do Ensino Secundário publica os resultados dos exames nacionais dos alunos deste nível de ensino. Vários jornais ordenam os resultados por escola e por disciplina pela média obtida pelos alunos numa escala de 0 a 20, e expressa em arredondamentos a -0,1.
Tudo isto seria útil e interessante se partisse de dados verdadeiros e se a realidade das escolas não estivesse gravemente enviesada à partida. Até porque o que verdadeiramente os professores fazem no acompanhamento e recuperação dos alunos não é expresso nos rankings. E temos de reconhecer que os rankings foram nefastos para as escolas públicas porque fizeram mimetizar os procedimentos das privadas.
Vejamos então os fatores de enviesamento:
1. As escolas públicas não podem escolher os alunos embora se esforcem por isso; as privadas, sim;
2. Os alunos das escolas privadas são essencialmente oriundos das classes média e alta; os das escolas públicas vêm das classes baixa, média e alta, com predominância para as classes média e baixa;
3. As notas mais elevadas distribuem-se predominantemente: pelos alunos filhos de famílias da classe alta, em 50%; da classe média, em 30%; e da baixa, em 20%, havendo portanto uma grande desigualdade sócio-escolar na distribuição dos bons resultados;
4. Semelhante desigualdade observamos se compararmos escolas do Interior e do Litoral apesar de haver muito Interior em muitas escolas do Litoral;
5. As escolas públicas, como estão mal classificadas no ranking, expulsam os seus «maus» alunos, no final do segundo trimestre, para eles não irem a exame como alunos da escola mas sim como autopropostos;
6. Tão mau como isto é as escolas públicas tentarem não matricular ou não aceitar a transferência de alguns alunos julgados «maus» ou civicamente reprováveis;
7. As escolas públicas também querem aparecer bem no ranking e fazem tudo para isso, negligenciando aspectos fundamentais do processo educativo;
8. Além de todos estes factores, existe a escola privada na escola pública, através do mercado das explicações, com pelo menos 50% dos alunos em explicações, acumuladas à aprendizagem na escola;
9. No final, perguntamos: quais são os alunos da escola regular e a resposta é: só aqueles que não anularam a matrícula e não andaram em explicações, ie, 50%;
10. Ou seja, ao não considerar como da escola os alunos que esta expulsou e ao não separar os beneficiários de explicações dos não beneficiários, e ao não atribuir às escolas um valor esperado conforme a origem sócio-cultural dos alunos, este ranking não passa de uma fraude, em benefício dos interesses das escolas privadas, dos seus patronos e da classe social dominante e suas elites.
11. Esta avaliação só valoriza a dimensão académica das escolas; as dimensões orientadora e socializadora são muito mais necessárias nas escolas públicas do que nas privadas;
12. No final, ainda há processos de correção pelo Júri Nacional de Exames que alteram gravemente os scores dos alunos;
13. E há outros aspectos ocultos que só a investigação policial pode explicar;

As escolas bem precisam de um ranking que expresse os seus processos e os seus resultados. Mas não esta mentira. E não negamos a verdade adquirida já nos anos 80 do Séc. XX: os resultados dos alunos devem-se em 35% a eles mesmos e suas famílias; em 45% aos professores; e em 20% à escola enquanto local de vida orientadora, académica e social. O que explicará parte dos resultados de muitas escolas privadas. Mas isto não tem de ser assim tão desigual para sempre.

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