A opinião de ...

Dizer que a morte de Giovani foi um ato racista é, em si mesmo, racismo

Com uma semana de atraso, o país comoveu-se com a notícia da morte de um estudante cabo-verdiano, após uma agressão sofrida na noite de Bragança por um grupo de outros jovens.
O Mensageiro foi o primeiro órgão de comunicação social a noticiar o trágico desfecho da agressão. Só vários dias depois é que o país acordou.
A partir de Lisboa, foram várias as vozes que se levantaram contra tudo e contra todos, com aproveitamentos políticos pelo meio.
Não faltou quem tratasse de sentenciar que este crime era um crime racial, um crime de ódio, enquanto outros de contornos semelhantes eram “apenas” crimes normais.
Mais do que discutir o grau de gravidade de crimes que tiram vidas humanas, deveríamos discutir formas de prevenir que se repetissem.
Mas, infelizmente, há quem goste de acender rastilhos e carregar a fogueira de achas.
Tal como já disseram as autoridades, este não foi um crime racial, foi um crime por “motivos fúteis”, uma qualquer situação gerada num bar, que descambou em violência na rua. Não é preciso que a cor da pele dos envolvidos seja branca, negra, amarela ou laranja.
Infelizmente, não é a primeira vez que há mortes após uma noite bem regada. Há mais de 20 anos que não acontecia em Bragança, mas a cena repetiu-se agora.
Semanalmente, são várias as pequenas altercações entre jovens (e não jovens). E isso ocorre agora como acontecia há cinco, dez ou 20 anos, antes de haver uma comunidade africana instalada em Bragança. Já no fim de semana passado, um outro jovem foi esfaqueado numa perna e não costa que alguém visse rasgar as vestes e clamar por racismo.
Com o aumento de jovens estudantes na cidade, a probabilidade de haver altercações na noite é maior. Isso é um facto. Querer colar tudo que acontece envolvendo a comunidade africana em Bragança, com vários exemplos positivos de integração positiva (se não se sentissem bem, não permaneciam na cidade quando acabam os estudos) é irresponsável e, em último caso, uma atitude de racismo, pois parte de um preconceito já definido.
Como diria o professor Manuel Machado, “um vintém é sempre um vintém, um cretino é sempre um cretino”. Independentemente da cor da pele.
Luís Giovani Rodrigues teve o azar de estar no sítio errado à hora errada. A agressão de que o seu grupo foi alvo é um ato de cobardia. Mas que aconteceria de igual forma se o grupo fosse de polacos, árabes ou transmontanos.
O caso de Giovani é duplamente trágico pois quando os bombeiros foram chamados, o alerta indicava um jovem inconsciente por intoxicação. Algo que, de madrugada, numa zona de bares, não será de estranhar. O próprio ferimento na cabeça poderia ter sido provocado pela queda e os sinais de vómito são condizentes com um estado de embriaguez. No entanto, também são sinais de traumatismo craniano

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