A opinião de ...

Uma noite eleitoral fora de portas

A noite eleitoral do passado dia 26 de setembro foi atípica. Foi mais longa que o habitual e recheada de incertezas. Apesar dos avanços tecnológicos, os resultados tardavam a certificar vitórias e derrotas. Os dados oficiais ora confirmavam a tendência para um lado ora pendiam para o outro. E as horas iam passando e a ansiedade aumentando. E eu fora de portas, em Estrasburgo, para onde o dever me levara logo a seguir ao cumprimento do dever cívico de votar. Uma noite que jamais esquecerei. Foi a primeira vez que acompanhei, desacompanhada, um ato eleitoral em Portugal. E espero não repetir. Para mim, noite eleitoral foi sempre de convívio e partilha. Com família, amigos e camaradas. Desde as primeiras eleições democráticas que assim tem sido. A vida é feita de coincidências, tantas vezes disfóricas, como nesse dia em que a distância agravou a incerteza da demora. Quando me deitei (muito tarde dada a diferença horária e o trabalho começar às 8h30), já sabia que o PS tinha ganhado as eleições, mas o resultado de Lisboa continuava incerto.
A perda de Lisboa foi a desagradável surpresa do amanhecer. A minha convicção da vitória, também prenunciada pelas sondagens, resultava da qualidade do projeto voltado para o futuro que Fernando Medina tinha para a capital e da avaliação da obra feita a pensar nas pessoas, “mais cidade para as pessoas”, e a cuidar do ambiente, ou seja, a cuidar da qualidade de vida e do bem-estar de quem reside, trabalha, estuda e passeia em Lisboa. A diferença de menos de 1% entre Medina e Moedas, a abstenção 3% acima da média nacional e o resultado dos partidos da esquerda (7 mandatos para o PS, 2 para o PCP e 1 para o BE num total de 17) merecem uma análise profunda para se retirarem os devidos ensinamentos. A realidade tem mais matizes e é mais complexa do que aquilo que o olhar pode captar em cada momento. Harold Pinter, no discurso de agradecimento do prémio Nobel da Literatura (2005), afirmou que “quando olhamos um espelho, pensamos que a imagem à nossa frente é exata. Mas basta movermo-nos um milímetro para a imagem se alterar. Aquilo que estamos realmente a ver é uma gama infindável de reflexos”. O mesmo acontece com a realidade. E com os resultados eleitorais.
Em eleições, há vencedores e vencidos. Há os que ganham e os que perdem. É da natureza do ato de eleger e ser eleito. Como os objetivos, as metas e as expetativas são distintas, cada força política olha os resultados como se de um caleidoscópio se tratasse. Contudo, à subjetividade dos olhares, impõe-se a objetividade dos números. E os números dizem sem margem para dúvidas que o PS ganhou pela terceira vez consecutiva as eleições autárquicas (2013, 2017, 2021). Ganhou mais câmaras (152) e freguesias, mais votos e mais mandatos que qualquer outro partido, mantendo a presidência da Associação Nacional de Municípios (ANMP) e a presidência da Associação Nacional de Freguesias (ANAFRE). E foi o único partido que concorreu em todos os municípios do País. No passado dia 26 de setembro, os portugueses renovaram a sua confiança no PS, que continua a ser o maior partido do poder autárquico.
É no poder local que reside a grande força da democracia. Por isso lamento a elevada taxa de abstenção. E também por isso, permitam-me que, na pessoa de minha amiga Júlia Rodrigues, saúde todas e todos os eleitos da nossa região e lhes deseje um bom mandato em prol das nossas terras e das nossas gentes.

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