Diocese de Bragança-Miranda

Núncio Apostólico: "Às vezes, os processos e as circunstâncias não permitem proceder com aquela rapidez que alguns esperariam”

Publicado por António G. Rodrigues em Qui, 2022-10-13 10:05

D. Ivo Scapolo, Núncio Apostólico em Portugal, é o representante do Papa Francisco no nosso país. No passado fim de semana esteve na diocese de Bragança-Miranda.

Mensageiro de Bragança: É a primeira vez aqui na diocese de Bragança-Miranda. Qual é o sentimento?
D. Ivo Scapolo:
Para mim, visitar pela primeira vez uma diocese nos países para onde o Papa me envia é sempre um motivo de grande alegria porque é uma ocasião para fazer presente o Santo Padre, que me enviou a Portugal e a acompanhar esta diocese de Bragança-Miranda. É um sentimento de alegria, de honra de poder transmitir os cumprimentos e os sentimentos de carinho do Papa para toda a Igreja Universal e, em especial, neste caso, para esta diocese. É uma ocasião, também, para fortalecer os vínculos de comunhão, de unidade que tem de existir entre esta Igreja local e o Santo Padre com toda a Igreja Universal que no mundo trabalha para a difusão do Reino de Deus.

MB.: Como o Papa Francisco diz, esta é a ‘periferia das periferias’. Estamos longe de tudo. Mas continua a ser uma Igreja presente...
DIS.:
Podemos dizer que na Igreja não há periferias porque em cada lugar está presente o coração da Igreja. Aqui também. Em cada Igreja local está presente toda a Igreja Universal. Às vezes, geograficamente pode acontecer que algumas dioceses ficam mais longe, são de mais difícil acesso mas há que considerar cada comunidade diocesana algo de precioso e lindo, onde sabemos que o Espírito Santo trabalha para realizar a Salvação.

MB.: O que pensa da implantação do Mosteiro Trapista em Palaçoulo?
DIS.:
Recebi muitas boas notícias de D. José Cordeiro sobre esta comunidade. Sei que as irmãs fundadoras são italianas. É uma alegria para mim visitar este mosteiro. É uma ocasião de dar o apoio possível, na esperança de que aqui possam ser uma referência para muitas outras jovens que queiram dedicar a sua vida à experiência da oração e contemplação, sobretudo à oração na interceção pelas muitas necessidades da Igreja e do Mundo, em especial o tema das vocações.

MB.: Já está em Portugal há alguns anos. Que balanço faz da sua presença cá? Correspondeu ao que esperava?
DIS.:
Habitualmente não chego com determinados programas ou expectativas. Chego aos locais, olho ao meu redor, aprecio as coisas boas e aqui existem muitas coisas boas. Observo também as coisas que se podem fazer melhor. É essa a atitude que tenho tido ao longo de tantos anos de serviço.
Às vezes perguntam-me qual o melhor país em que trabalhei como chefe de missão. Estive na Bolívia, Ruanda, Síria e, agora, Portugal. Digo que cada lugar é diferente, com as suas luzes e as suas sombras. É como perguntar a um pai qual é o filho mais querido. Todos são muito queridos, cada um com as suas características positivas e negativas. Conservo, de todos os lugares em que estive e das dioceses que visitei até hoje uma linda recordação. Todas são importantes.
Em Portugal já visitei o Porto, na Semana Santa estive em Angra, estive na Madeira no ano passado. Visitei também Fátima várias vezes, Braga. Também fui a Vila Real, Viana do Castelo, Évora, Faro. Faltam poucas.
O meu desejo é visitar pelo menos uma vez e depois regressar, para ajudar as comunidades a sentirem-se parte desta grande família de Deus que é a Igreja.
Esta entrevista é dada no dia em que se celebram os 21 anos da dedicação da atual catedral e no qual foi publicada a notícia da nomeação de D. Delfim como bispo auxiliar de Braga.
Às vezes, as pessoas podem pensar que primeiro ficaram sem um bispo e, agora, sem um sacerdote. Mas somos parte da Igreja, como diz S. Paulo, de um corpo único mas com diferentes membros. Não é que se perda mas é o mesmo corpo que é dinâmico. É como quando há a mudança de um pároco de determinada paróquia para outra. Ninguém tem de se zangar. O bispo, na sua autoridade e sabedoria, avalia as situações e decide. Também sofre pela mudança do sacerdote mas continua a acreditar na Igreja e a querer colaborar para a construção do Reino de Deus. Não deve haver uma visão egoísta, do ponto de vista pessoal ou comunitário, mas uma atitude de serviço, de abertura, de colaboração.
De facto, quantos sacerdotes, religiosos e religiosas, saíram de Portugal para irem por todo o Mundo? Essa é missão da Igreja, tentar que as pessoas fiquem connosco.

MB.: Que mensagem pode deixar aos fiéis da diocese, que há muito rezam pela nomeação de um novo bispo?
DIS.:
Que continuem a rezar, muito, para que esta pessoa que venha, não sei de que diocese mas que sem dúvida já está nos planos de Deus, seja a pessoa mais idónea e receba do Senhor todas as Graças necessárias para cumprir esta importante missão.
Mais do que olhar para o calendário para ver quantos dias passaram ou quantos vão passar ainda, devem preocupar-se em rezar muito, sabendo que da parte da Nunciatura e de todos os que participam neste processo, que é muito longo e detalhado, se fazem todos os possíveis para que possa chegar o quanto antes. Mas às vezes os processos e as circunstâncias não permitem proceder com aquela rapidez que alguns esperariam.

MB.: A nomeação de D. Delfim Gomes é, para si, especial, uma vez que é o primeiro padre que faz bispo desde que está em Portugal [todos os outros foram recolocações de bispos já nomeados]?
DIS.:
Sim, os outros foram todos transferências. É um motivo particular de alegria mas esperemos que dentro de poucos meses possamos ter muitos mais.

MB.: No próximo ano vamos ter a Jornada Mundial da Juventude. Como está a ver a forma como Portugal está a preparar esse momento?
DIS.:
Pelo que pude ver, está a trabalhar-se com muito entusiasmo e com uma boa organização e boa relação entre Estado e autoridades civis de Portugal. A impressão é que tudo corre bem. Vamos ter, dentro de dias, um evento importante em Fátima, aonde chegarão os representantes das Conferências Episcopais de todo o mundo. Será importante do ponto de vista simbólico mas também prático, para poder melhorar os detalhes da organização.

MB.: Que balanço faz desta visita?
DIS.:
Em Balsamão tivemos um encontro muito interessante com os consagrados. Houve um momento de oração e depois um diálogo de análise da realidade da diocese. Indicaram-me aspetos muito importantes para mim. Na sexta-feira também perguntei aos sacerdotes diocesanos, aos religiosos, que me ajudaram a entender quais os aspetos mais lindos e quais os desafios que a diocese está a enfrentar. São informações úteis para apresentar a situação da diocese, que tenho de enviar para Roma, ao Santo Padre, antes da decisão do novo bispo.

MB.: Com que impressão sai desta diocese? Quais lhe parece que são os principais desafios?
DIS.:
Há aspetos positivos e negativos. Por exemplo, depois de Balsamão estivemos um Centro Social, na paróquia dos Santos Mártires, onde encontrámos uma realidade encantadora, como encantadora é esta realidade da Cáritas Diocesana. Estas duas realidades são muito positivas e há que fazer votos para que possam continuar com este serviço tão importante e precioso a favor dos mais necessitados.
Sobre os desafios que a Igreja enfrenta, são coisas que se encontrem noutros lugares, como o tema de como chegar aos jovens e às novas gerações. Outro desafio é a falta de sacerdotes. É preciso encontrar maneiras de ver como, com os sacerdotes que há, fazer com que as comunidades consigam ter as suas celebrações e serem acompanhadas pela comunidade cristã. Às vezes, alguns lugares estão reduzidos numericamente, são sobretudo pessoas idosas, mas merecem todo o apoio, toda a estima e carinho de toda a comunidade.
Há o tema dos jovens que, depois dos 18 anos, deixam as suas terras de origem e vão à cidade ou a outros centros do país. Há o desafio de ver como poder acompanhar estes jovens e não perder o trabalho feito nas suas paróquias de origem.
Todo o tema das vocações, porque a Igreja necessita muito, também é preciso enfrentar para fazer uma pastoral vocacional. O Senhor continua a chamar e talvez devamos fazer mais e melhor para que os jovens sejam devidamente acompanhados.

 

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