Nordeste Transmontano

“No pós-covid temos um maior pedido de consultas relacionadas com queixas ansiosas e depressivas”

Publicado por António G. Rodrigues em Sex, 2022-10-21 10:31

Joana Gomes, do serviço de Psiquiatria da ULS Nordeste, revela, em entrevista ao Mensageiro, que a pandemia espoletou alguns problemas escondidos...

 

Mensageiro de Bragança: Que efeitos da pandemia ao nível psicológico se constatam nas pessoas?
Joana Gomes:
Estão a surgir agora casos de pós-covid. Percebemos que o contexto pandémico aporta, hoje, algumas queixas mais particulares, nomeadamente queixas de ansiedade, síndromas depressivos e as perturbações relacionadas com o trauma são aquelas que percebemos que estão a surgir mais. Também já estaríamos um pouco à espera se considerarmos outras pandemias. Percebemos que estes diagnósticos são os que se esperariam que aparecessem mais e, de facto, são os que estão a aparecer mais.
Ainda existem poucos estudos mas o que percebemos, mais localmente, é que os casos que mais nos surgem são de pessoas que estiveram internadas no início da pandemia com quadros graves, nomeadamente nos Intensivos. Essas foram as que surgiram primeiro, com quadros mais relacionados com perturbações de ansiedade e trauma. Percebemos que podem existir efeitos diretos da própria infeção, como a neuroinflamação mas também todo o contexto de medo, do desconhecido, do afastamento da família. Essas pessoas ficaram aqui num maior risco e foram as que recebemos com mais rapidez.
Mas também as pessoas que não puderam estar nas cerimónias fúnebres de familiares, não puderam resolver bem o seus lutos, ficaram com situações económicas mais fragilizadas, a ameaça de desemprego, a insegurança face ao futuro... algumas populações de risco, como, por exemplo, as vítimas de violência doméstica, que estariam já em situações de maior risco, estão agora em maior risco de ansiedade e depressão.
A maior parte das pessoas recuperou perfeitamente e estão bem.

MB.: Mas nota-se um aumento da procura das consultas de psiquiatria na ULS?
JG.:
Temos sempre muitos pedidos de consultas, não todas relacionadas com a covid. Mas percebemos que temos uma grande prevalência de consultas por queixas ansiosas e perturbações de ansiedade. Ainda é cedo para dizer que são todas relacionadas com este contexto pandémico mas que temos um maior pedido de consultas relacionadas com estas queixas ansiosas e depressivas, temos.

MB.: Tem ideia de quanto terá sido esse aumento?
JG.:
É difícil dar uma percentagem porque também aumentámos a oferta. Temos mais psiquiatras e é difícil perceber o aumento grande que existiu. Temos mais oferta de psiquiatria e acabámos por ter alguma fragilidade nos cuidados de saúde primários.
Mas sim, começam a aparecer. Por outro lado, as pessoas também ficaram mais sensibilizadas para os sintomas. Então, procuram mais cedo ajuda. Esse aumento não tem de ser negativo. Pode ser que as pessoas estejam mais sensibilizadas.
Mas tem vindo população mais jovem. Começa a surgir um maior número de consultas para perturbações depressivas e de ansiedade.

 

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