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Igreja de Santo Estêvão, Espinhosela. Primeiro Mártir da Igreja

Separada do Parâmio pelo rio Baceiro, a freguesia de Espinhosela ‘espalha-se’ pelas aldeias de Cova de Lua, Terroso e Vilarinho. Distante 13 km a Noroeste de Bragança, a aldeia-sede tem como património religioso a Igreja Matriz de Santo Estêvão, no «Bairro do Vale», e a Capela de Nossa Senhora do Rosário, no «Bairro do Outeiro». Hoje desaparecida, existiu ainda a Capela dedicada a São Caetano, ereta pelo Padre Belchior Leite de Azevedo, abade de Espinhosela, em finais do século XVII. Em 1703, a administração da Capela foi concedida aos Jesuítas de Bragança, com a premissa de uma missa diária pela alma do reverendo Belchior e a celebração de uma missa solene no dia de São Caetano. Com a extinção da Companhia de Jesus em 1759, a Capela entrou em estado de abandono, havendo o cuidado de transferir as imagens de Nossa Senhora da Conceição, de Santo António e de São Caetano para a Igreja Matriz, em 1789.
A área de implantação da freguesia é habitada desde a Idade do Ferro, identificando-se os castros na Fraga do Corvo e o de Casarelhos. Foreira régia, Espinhosela está documentada desde as Inquirições de D. Afonso III, em 1258, e nas de D. Dinis, no final do século XIII. Em 1320, este monarca taxou a Igreja de Santo Estêvão em 50 libras anuais, como contribuição para a guerra contra os mouros. A partir do século XV, a Igreja passou a pertencer à Casa de Bragança, cabendo ao respetivo Duque a apresentação do Abade. Pelas «Memórias Paroquiais», em 1758 tinha três altares: Altar-mor com Santo Estêvão; lateral do lado evangelho, com São Julião e São Brás; do lado da epístola, dedicado a Nossa Senhora da Conceição. Estava ainda em edificação um altar das Almas.
A Igreja de Santo Estêvão é uma relíquia arquitetónica e decorativa. O frontispício tem alpendre a proteger o portal, de frontão recortado, encimado por óculo circular e empena em papo de rola, truncada pelo campanário. Este é de dupla sineira, com aletas adossadas às pilastras, coroado por Cruz trevolada, ladeada por pináculos bulbosos. O acesso ao campanário é feito a partir do coro-alto, por escadas de madeira. O interior, rebocado a azul, com óculo central no teto da nave, apresenta compartimento de batistério, com porta balaustrada e frontão de madeira com pináculos e Cruz torneada, e púlpito de varandim quadrangular, sobre mísula volutada. Insertos em vãos de volta perfeita, estão quatro altares laterais policromados tardo oitocentistas, de mesas paralelepipédicas. Os primeiros retábulos, confrontantes, de moldura apilastrada a suportar o arco, contêm painel pintado alusivo às Almas, com data de 1889, no lado do evangelho, e vegetalista com imagem de São Caetano sobre mísula, no da epístola. Junto ao arco triunfal, os retábulos confrontantes são gémeos, datados de 1898, com colunas de fuste a remeter para o Barroco Joanino e os capitéis para o coríntio. São coroados por Cruz sobre pedestal, ladeada por volutas. O do lado da epístola acolhe em vitrina central a imagem de Nossa Senhora da Conceição e, o da epístola, tela pintada com Santa Luzia e … S. Julião?
O arco triunfal, a permitir aceso ao presbitério, é um peculiar exemplar tardo-românico: “arquivolta de arco pleno moldurado e decorada com motivos geométricos e vegetais, tendo a pedra de fecho uma representação facial humana ladeada de temas zoomórficos, assente em pilastras decoradas com pontas de diamante e coluna cilíndrica, rematada por capitel e imposta ornados com idêntica gramática decorativa” (Paulo Amaral, SIPA, 1998). O retábulo-mor, de cor ocre e decoração dourada, é de três eixos, definidos por quatro colunas de fuste estriado e capitel de estilo coríntio. O eixo central expõe o Sagrado Coração de Jesus e os laterais Santo Estêvão (presente na Capela de Nossa Senhora do Rosário) e Santo António. A encimar as imagens constam três telas pintadas a contar episódios do protomártir Santo Estêvão. O tecto do presbitério está ‘forrado’ com nove painéis pintados com os quatro Evangelistas, o Apóstolo S. Tomé, Nossa Senhora do Rosário, o Orago Santo Estêvão, Santa Comba e S. Cipriano.

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4034

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