A opinião de ...

Nave dos Loucos ou Planeta dos Loucos?

Respigo algumas notícias recentes.
Como resultado da ajuda militar dos EUA e de muitos estados europeus, a Ucrânia tornou-se na terceira maior importadora de armamento em 2022. – Expresso, 13 de março de 2023.
China e Rússia criticam pacto militar entre EUA, Austrália e Reino Unido – várias notícias nos Média.
A Coreia do Norte lança frequentemente mísseis intercontinentais – notícias recorrentes
Sindicatos em França prolongam greve geral por tempo indeterminado - SIC Notícias 08.03.2023.
As falências de bancos e seu impacte nas economias – na abertura de telejornais e nas primeiras páginas de periódicos.
A nossa ministra da Defesa já falou em compras de armamento conjuntas.
Chefes de equipas médicas que se demitem. Médicos que admitem fazer greve.
Militares da Marinha que se recusam a navegar num patrulhamento porque o navio Mondego está com problemas.
Professores e outros profissionais da educação fazem greves.
Enfermeiros e as suas reivindicações.
Os abusos sexuais de clérigos da Igreja Católica no nosso país e noutros países.
Crises relacionadas com a água põem em risco 190 milhões de crianças.
A guerra traz no seu bojo um espantoso inventário de sofrimentos.
A “Nave dos Loucos” (mais propriamente, a “A Nau dos Insensatos”) é uma alegoria numa sugestiva pintura de Hieronymus Bosch (Países Baixos, sécs. XV e XVI): a descrição dos costumes da sociedade da sua época, nela estando incluídas diversas formas de desregramento social (entre nós, na mesma época, poderíamos aceitar que mestre Gil Vicente teve as suas barcas, verdadeiras naus, onde o primeiro dramaturgo da nossa História trata de forma admirável a imoralidade de costumes da sua época). A “Nave dos Loucos” (1962) é, também, o nome da obra única de Katherine Anne Porter, que está prenhe de intrigas, traição, morte, enfim dos males de que o homem padece, por iniciativa própria. Por certo, voltamos à mesma questão: o homem é naturalmente bom ou, pelo contrário, é naturalmente mau? Se confiarmos na obra de Thomas Morus (Utopia) e na de Rousseau (Contrato Social), poderemos afirmar que o “homem nasce naturalmente bom, mas a sociedade o torna mau (corrupto, venal, invejosos, belicoso…).
No entanto, se escutarmos (lermos) as reflexões de Thomas Hobbes, verificamos que o homem é cruel, mau e egoísta; por isso, defende, na sua obra Leviatã: para não nos destruirmos uns aos outros seria – propunha – é necessário um contrato social que estabeleça a paz, a qual levará os homens a abdicarem da guerra contra outros homens. Isto seria alcançável com um poder forte. Também, por essa altura, séc. XVIII, Voltaire, de uma outra forma e com outros argumentos, defendeu que aos homens apenas deveriam interessar ideias como a Humanidade, Liberdade, Razão e Democracia.
Mas desçamos à realidade atual: com que armas lutaram e lutam homens como Jesus, Buda, Confúcio, Mandela, Mahatma Gandhi, Leonardo Boff…? Há uma frase que Pacheco Pereira fazia encimar o seu blogue Abrupto, muito certeiro social e culturalmente: “...m’espanto às vezes, outras m’avergonho ... (Sá de Miranda)”.
Olhando à volta: afinal em que Nave navegamos?

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