A opinião de ...

A Música e o Mundo distópico

Quantos compositores nos sensibilizam através da sua Música…fazendo apelo à solidariedade, à amizade, à fraternidade, nunca desejando incutir maldade ou ódio! Vejamos o que nos disseram alguns conhecidos compositores.
«A música é minha vida e a minha vida é a música. Quem não entender isso, não é digno de Deus» – Amadeus Mozart. Proximidade ao amor, ao divino.
Beethoven dedicou, num primeiro momento, a sua sinfonia A Heroica a Bonaparte, porque acreditava nos ideais da Revolução Francesa, mas logo se arrependeu quando viu o cônsul Napoleão autossagrar-se imperador. Proximidade à fraternidade.
«A música é a vida emocional da maioria das pessoas». – Leonard Cohen, compositor canadiano. Proximidade ao equilíbrio psicológico.
O prolífico compositor alemão, contemporâneo, Wolfgang Rihm, afirmou: «A música deve ter emoção, e emoção é complexidade». Proximidade aos sentimentos.
A música é a mais universal das artes. Transmite-nos emoções e sentimentos distintos: alegria e tristeza, beleza e desarmonia, relaxamento e ansiedade, felicidade e aborrecimento; também medo, e luta, e ideologia. É razoável reter que a Música pode abordar problemas sociais e estilos de vida, disseminar provocações e sugerir opções políticas. Pode, igualmente, promover unidade social por força da sua capacidade mobilizadora à volta de crenças e valores; pode reforçar a dominação e manutenção de situações que conduzem à exclusão, reproduzindo ideias que reforçam e deturpam a realidade. O que vale por dizer que há ideologia, mesmo em músicas em que aparentemente não vejamos um fundo orientador.
De que emoções vivemos na atualidade? Que fatos se nos deparam neste tempo e por este mundo que nos levam a afirmar que estamos perante tanto sofrimento humano, na Europa, em África, na Ásia, nas Américas? São os regimes autoritários, populistas e belicistas que provocam as desigualdades traduzidas em penúria, fome, iliteracia – perfeitamente evitáveis. Por isso, questiona-se: qual o papel da Música na Sociedade? Se a Música é compartilha, como aceitar que ela esteja ao serviço de certos poderes? Se a distopia atual é sinónimo de sofrimento em sociedades regidas por populismos, seja qual for a sua natureza, é fácil de perceber a aproveitamento que dela fizeram homens que manda(ra)m no mundo: os ditadores. Os hinos, as marchas, as cantigas populares, as óperas, igualmente os batuques, a rumba, o samba e outras formas musicais foram devidamente apropriadas por ditadores. O exemplo paradigmático é-nos fornecido por Hitler e pelo seu ministro da propaganda, Goebbels – o grande responsável pela censura e pelo aproveitamento da música e outras artes, com sucesso, diga-se, para impacto junto da população durante o Terceiro Reich. Felizmente, compositores e intérpretes, ao longo dos tempos, conferem-nos a possibilidade de estarmos atentos ao que se passa e, de algum modo, ajudam os propósitos da Música: instalar a paz e a harmonia em lugares tão difíceis que nos perseguem, lá onde a penúria, a fome, a separação de famílias e a morte são um mal do Mundo. Atrevo-me a perguntar: pode a música ajudar a ultrapassar conflitos? Pode ajudar a combater a descriminação?

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3907

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