A opinião de ...

Aeroporto? Qual aeroporto?

Normalmente, de pouco serve ter razão antes do tempo, a não ser uma satisfação por ver reconhecida a sua clarividência e capacidade de antevisão, também por quem, anteriormente, a tinha contestado. É verdade que de pouco adianta vir dizer “isso já eu tinha dito, recomendado ou antecipado há muito tempo” mas também não há mal nenhum em recordá-lo e, com razão, reclamar mais atenção, para futuras “recomendações”.
Vem isto a propósito da proposta “moderna” de levar a linha de caminho de ferro a Mirandela, Bragança e Miranda. A aposta na ferrovia foi o tema de algumas conferências levadas a cabo pela RIONOR há meia dúzia de anos. No primeiro semestre de 2017 na Domus Municipalis de Bragança, alguns meses depois na Biblioteca Municipal de Torre de Moncorvo e, mais tarde, já em 2019, em Alcanices, a associação nordestina reclamava a aposta na ferrovia como um fator seguro de desenvolvimento. Tal proposta foi olhada com desdém pelos vários autarcas nordestinos que participaram nos referidos eventos. Segundo eles, a reposição do comboio não era a melhor opção, nem sequer, a modernização e recuperação da linha do Douro, na sua plenitude. O que importava, o que era essencial, a solução que desenvolveria o nordeste passava pela conclusão do plano rodoviário e, sobretudo, pela instalação na capital de distrito de um aeroporto internacional! Isso sim, é que era urgente, imperativo e necessário!
Pois bem, já não é! As grandes instalações aeroportuárias já não têm o “glamour” de outros tempos e já se viu que as auto-estradas, sendo úteis e cómodas, levaram mais do que trouxeram.
Agora o que importa é, finalmente, garantir a inclusão das cidades da nossa região no novo plano ferroviário principalmente de alta velocidade. Ainda bem que o foco das prioridades mudou. Porque, como ficou demonstrado nas várias das sessões referidas, desenvolvimento e via férrea conjugam-se no mesmo tempo e no mesmo modo. São as estações do comboio que fixam populações, servem as regiões, garantem transportes confortáveis e de baixo custo de passageiros e de mercadorias.
Acrescente-se o, cada vez mais importante, baixo impacto ambiental.
Foi com óbvio agrado que recebi a notícia da promoção, em Bragança, de uma sessão em prol da ferrovia transmontana. Soube, com desilusão, da intervenção do Secretário de Estado com o pelouro desta matéria. Pelos vistos o que é para já, não inclui Bragança e que possa eventual passar por Bragança, não é para já! Porque o que está já a ser estudado, contempla outras soluções e, obviamente, não podemos passar o tempo todo a fazer estudos em cima de estudos, sem concluir nenhum deles.
Provavelmente, independentemente da bondade da solução a que se pediu ao Governo para aderir, a que está, neste momento em cima da mesa era defendida, em tempos idos, por alguns visionários que achavam, e bem, que a nossa insistência ou quase teimosia nas auto-estradas e comunicações aéreas, era uma solução do passado pelo que estavam eles a sensibilizar os órgãos do poder, da adequabilidade e exequibilidade do novo plano ferroviário regional.
Não há mel nenhum em ter razão fora do tempo, mas era melhor tê-la, e vê-la reconhecida, no tempo próprio e quando útil.

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