A opinião de ...

Por que esperais, Senhores da Igreja Católica?

Zenão, Zenão de Eleia, onde deixaste teu cavalo alado para te perderes no seu voo imóvel? (Michel Quoist, Construir, sd)

Há dois anos, depois de apelos vários, a Igreja Católica Portuguesa abriu as suas portas para poderem ser conhecidos abusos sexuais que hajam sido cometidos por membros da Instituição sobre menores e adultos nos últimos 75 anos.
Nomeada uma Comissão de especialistas para colher e interpretar possíveis queixas de vítimas, chegadas num total de 4.872, muitas outras terão ficado por conhecer até porque outras muitas continuam a chegar não tendo já endereço adequado.
A questão primeira é saber se o problema teria sido investigado não fossem as pressões externas sobre a Igreja. A questão fica para os académicos.
As pressões externas tiveram três proveniências: 1) dos que querem bem à Igreja e pedem santidade e transparência; 2), dos que querem mal à Igreja e querem acabar com ela; 3) dos que não querem bem nem mal e acham que o problema deve ser conhecido para ser evitado. Os primeiros são os verdadeiros santos ou «puros de coração», que abundam na Igreja mas não têm acesso ao Poder dentro dela. Os terceiros são bem intencionados e actuam em nome da verdade. Os segundos não contam para aqui porque estão, à partida, revestidos ou de ódio ou de mal-querer ou ainda de indiferença.
Os abusos sexuais, os abusos de poder, o pecado e outros males existem na Igreja e sempre existirão, como em todas as outras organizações. A Igreja não é nem mais nem menos pecadora do que as outras instituições. A grandeza do trabalho desta Comissão e desta iniciativa estão em dizer-nos que a Igreja não é, nunca foi e nunca será uma organização santa mas uma organização de pessoas, cada uma com os seus problemas e história, pessoal e socialmente. Não é uma Comissão ou o conhecimento de uma parte da realidade que acaba ou redime o mal. O mal faz parte do mundo, da vida, da sociedade. Pode é haver formas de limitá-lo. E é nestas que devemos concentrar os esforços.
Entre outras, há quatro possíveis decisões para limitar o mal: 1) acabar com os seminários menores unissexo, colégios e internatos menores unissexo; 2) só deixar ordenar os padres e as possíveis padras a partir dos 35 anos; 3) acabar com o celibato; 4) permitir às mulheres assumirem todas as funções dos padres desde que preparadas para o efeito.
Seremos capazes de levar por diante estas medidas? Dificilmente porque são de decisão muito difícil e lenta já que a Igreja Católica é uma organização ecuménica e decide para todos mediante o assentimento dos representantes de todos os continentes e regiões. É uma organização autoritária-paternalista e age no respeito pelas sensibilidades continentais e regionais.
Conclusão: corremos o risco de ficarmos imóveis como o cavalo alado de Zenão de Eleia. E tudo terá sido quase em vão. Só que, a não existirem medidas, a Igreja irá perdendo prosélitos. É isso que queremos?

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