A opinião de ...

Serviço público e servir-se do público

O serviço público tem sido um tema cada vez mais recorrente nas notícias de telejornal, sobretudo com as diatribes do ministro Cabrita.
Eduardo Cabrita será, mais dia menos dia, mais uma vítima do cargo de Ministro da Administração Interna (uma das pastas que mais ministros devora) e das suas próprias fragilidades humanas após vários anos a pairar pela política.
Desde o acidente mortal em que o carro em que se fazia transportar aconteceu, a atenção focou-se na facilidade com que vários titulares de cargos (e carros) públicos quebram os limites de velocidade.
A facilidade com que quem está ao serviço público quebra certas regras começa a deixar passar um sentimento de impunidade, não só legal mas, sobretudo, política.
O sentido de Estado e de dever de um cargo público há muitos anos que se vem deteriorando e não é exclusivo de um qualquer partido em específico (uma rápida busca pelos motores de busca da internet mostram exemplos de queixas que atingem diversos quadrantes do espetro político).
Mas o problema não se confina aos titulares de cargos de nomeação.
Por toda a administração pública há exemplos de chefias intermédias com pouco ou nenhum sentido de responsabilidade e de noção das funções que ocupam.
Aliás, qualquer chefia nomeada tem noção que está refém das chefias intermédias que, querendo, bloqueiam qualquer orientação política emanada por um qualquer governo.
O problema torna-se ainda maior e mais grave quando esses maus exemplos se perpetuam no tempo e ramificam pela Administração Pública.
A inação, aliada à incompetência (entrando para a Administração Pública só se sai por vontade própria), fragilizam a resposta dos serviços perante os cidadãos, precisamente aquele que deveria ser o objetivo em termos de serviço.
Obviamente que esses casos serão uma curta minoria entre os muitos funcionários que mantêm o brio profissional e o sentido de dever público. O problema é que uma maçã podre contamina todo um cesto de fruta.
Numa altura em que os concursos a fundos europeus têm um peso estruturante na economia do país, os cidadãos anónimos e as empresas privadas ficam reféns da boa ou má vontade de um qualquer técnico, de uma infinidade de serviços, para que os projetos andem e façam andar a economia.
E é nestas alturas que o controlo deveria ser mais sério pois é da vida de muita gente que se fala, o que não se compagina com o bom ou mau humor de um funcionário público que se esquece do âmago das suas funções.
Um tema a desenvolver nas próximas semanas, com casos concretos...

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