A opinião de ...

A Sociedade XVII – Festas religiosas e romarias

As festas e romarias marcavam compassos de tempo.
É natural começar pelo nascimento de Jesus. Também é natural começar umas semanas antes, pelo início de Dezembro. Se o tempo vinha de feição, já se tinha o fumeiro feito, no Natal. Nos dias anteriores preparávamos o presépio, em casa ou na Igreja: apanhar musgo nas pedras das paredes com um frio de rachar e os dedos das mãos a doer. As expectativas aumentam ao máximo: chegam tios e primos, daqueles que só vemos de vez em quando ou os outros, de mais perto. Ceia, alegria, missa do galo, presentes (para quem os tinha). Rabanadas, filhós e mais mil coisas. Acima dos ganapos, preparava-se tudo antes, para a fogueira do Natal. Com um carro de bois puxado por mão humana, ia-se de casa em casa pedir cepos para a fogueira. Era coisa para várias horas e muito trabalho. Pelas 10 começava-se a acender o lume, ao relento, para estar bem quente pela noite dentro. Com sorte, havia quem oferecesse uns comes e bebes para ajudar a combater o frio.
Daí à passagem de ano é um nada: bater de testos e cama, logo a seguir à meia noite, pela disparidade de idades. Bailes, para quem gostava. Os avós ficavam connosco. Também não os esquecemos.
Daqui ao carnaval ainda vai um momento, mas aí era uma festa pagã, com mascaradas, sustos e caretos. No entrudo, a ganapada fazia mascaradas na escola e os jovens adultos faziam os casamentos: a coberto da noite gritavam, entre duas encostas altas da aldeia, no escuro, casamentos improváveis ou absurdos: Propostas de um lado e risadas do outro, seguidos de contra propostas e novas risadas. Era uma forma de agitar socialmente a sociedade dos solteiros.
Na Páscoa a solenidade tomava conta de tudo, desde o Domingo de Ramos, com os abundantes ramos de oliveira, às bolas doces, folar e missa solene com pregador, havia de tudo. De sábado de Aleluia para Domingo de Páscoa, o sino tocava toda a noite, era difícil dormir. E no Domingo de Páscoa, havia a visita Pascal. Vinha a Cruz à frente, acompanhada do Pároco e demais companhia. Entrava nas casas, dava a bênção e beijava-se a cruz. Havia sempre uma oferenda à Igreja. No fim, havia muitas vezes uma bebida e uma fatia de folar. Muito rápido, que havia gente à espera. Também era uma festa de família, mas não havia presentes……
Na festa da Padroeira, havia sempre romaria, missa solene, fogo de artifício. Os mordomos esforçavam-se ao máximo para uma bela festa. Logo de manhã a banda corria as ruas todas da freguesia, como que a dar a boa nova. Depois descansava, que o programa ia ser duro. Os mordomos tinham um dia difícil. Pelo almoço, havia ajuntamentos familiares e almoços bem regados. Mas à tarde, com bom tempo, era altura de confraternização. Passava-se na taberna para beber um copo e ver quem estava. Eventualmente uma cartada e logo depois vinha-se para a rua. Muitas vezes a tarde passava-se a jogar à malha.
À noite era o arraial com baile e fogo de artifício. A ganapada ia às canas.
Natal, Páscoa ou festa da Padroeira, se havia procissão, o caso era muito mais sério.

Edição
3932

Assinaturas MDB