Nunca aprendemos com os erros!
Em cada Verão, nos últimos anos, Portugal confronta-se com a mesma tragédia: localidades cercadas pelas chamas, famílias em aflição de perder casas, terrenos, animais, modo de vida, a vida!
É atroz. Não há palavras. No fim, a sensação amarga de que nunca aprendemos com os erros.
Continuamos a perguntar como é possível, outra vez? A resposta é simples: porque não aprendemos com os erros. Falta prevenção, falta investimento, falta coragem.
Também o nosso território de Trás-os-Montes, que continua a ser um espaço esquecido, despovoado, envelhecido e sem o necessário investimento, tem sido sujeito a tamanha provação, por ser cada vez mais vulnerável.
Enquanto o Interior continuar esquecido e as populações se sentirem abandonadas, a tragédia repetirá o seu ciclo.
As terras abandonadas, os matos por limpar, a falta de aceiros e de planeamento territorial transformam o fogo numa inevitabilidade. É necessário refletir sobre o cuidado prévio!
Diz-se que “os incêndios se combatem no inverno”, mas a verdade é que é preciso fazer-se muito mais também na Primavera. Muitos proprietários não têm condições para cumprir a limpeza anual e as Juntas de Freguesia carecem de meios. Multiplicam-se relatórios e promessas, mas quando chegam o calor e o vento, a catástrofe repete-se.
É incompreensível que haja verbas para algumas obras desnecessárias e tão poucas para uma política robusta de ordenamento florestal e de apoio às populações locais. O resultado é que, ano após ano, pagamos todos os custos de uma tragédia evitável.
Depois das chamas, fica o vazio: casas destruídas, currais arrasados, terras sem vida. Para quem resiste no Interior, este é um golpe duríssimo. O apoio não pode ser moroso nem burocrático; tem de ser rápido, humano e transparente. É necessário apoiar bem e a tempo as famílias e empresas afetadas.
O Estado deve garantir alojamento e bens de primeira necessidade, apoiar atividades agrícolas e pecuárias e simplificar processos. As autarquias, pela proximidade, são peças-chave, mas precisam de meios. Também a sociedade civil tem um papel a desempenhar, mobilizando redes de solidariedade que devolvam dignidade e esperança.
Necessariamente, mais do que reconstruir paredes, é preciso reconstruir vidas, memórias e comunidades.
Por outro lado, o problema não termina quando o fogo se apaga. Indaga-se sobre o que já está a ser planificado para prevenir outras tragédias e... nada!? Não é necessário preparar o futuro?
Não se pode esquecer que as encostas queimadas ficam frágeis perante as chuvas torrenciais do inverno, que originam a erosão e os aluimentos constituindo-se como a parte seguinte da tragédia.
Urge, por isso, apostar na reflorestação com espécies autóctones, resistentes ao fogo, e não na monocultura que alimenta a voracidade das chamas. É fundamental investir em linhas de drenagem, engenharia natural e programas de sensibilização que envolvam as populações.
A regeneração da floresta exige tempo, mas também visão e persistência. Dar “tempo ao tempo” é necessário, mas só dará frutos se houver planeamento e vontade política.
Aprender com os erros é, afinal, dar prioridade à vida, às pessoas e ao território. Se não o fizermos agora, corremos o risco de não ter futuro para reconstruir.