A opinião de ...

O efeito Pedro

Na recente entrevista do Papa Francisco ao jornal italiano Il Messaggero, periódico homónimo do nosso, o Pontífice afirma que «os comunistas roubaram-nos a bandeira. A bandeira dos pobres é cristã. A pobreza está no centro do Evangelho» (Il Messaggero, 29 de Julho). Este trecho, levantou polémica, como é habitual. Mas, como também é costume, o Papa limitou-se a dizer, em linguagem clara e contundente, aquilo que é uma verdade indiscutível.
Não vale a pena perder tempo a analisar os fundamentos destas afirmações. É evidente que a Igreja foi ao longo dos séculos, na obediência ao Mestre, a grande, muitas vezes a única defesa dos pobres na sua miséria. É também evidente que os movimentos comunistas, comungando a mesma preocupação, fizeram gala em, em vez de colaborar, atacar violentamente os cristãos. Pretendiam ter uma solução nova e radical, que passava pela destruição da religião. Também não restam muitas dúvidas que essa suposta solução se revelou altamente prejudicial, gerando muito mais miséria do que resolvia. Hoje, ultrapassada a trovoada marxista, a Igreja recuperou dos terríveis ataques e continua na sua tarefa de defesa dos pobres. Descrever este longo e dramático processo como «roubo da bandeira» é legítimo e sugestivo.
Talvez mais interessante do que aprofundar estes factos conhecidos, é tentar entender o que mais esta polémica nos diz acerca da atitude mediática deste Papa que já temos há quase ano e meio.
O Papa Francisco surpreendeu todos com uma atitude simples, displicente, natural, comportando-se com enorme liberdade e espontaneidade. Não mede as palavras ou faz cálculos de interesses. Diz o que pensa com toda a lisura, procurando ser compreendido por todos. O impacto deste estilo dificilmente seria maior. Os sinais surgem todos os dias de que muita gente, dos sectores mais inesperados, anda rendida com a simplicidade do Papa.
Qual é o verdadeiro impacto deste, a que podemos chamar «fenómeno Bergoglio»? Aquilo que ele explicitamente diz querer é simplesmente evangelização. O seu papel é anunciar Jesus Cristo. «A alegria do Evangelho enche o coração e a vida inteira daqueles que se encontram com Jesus.», afirma a primeira frase da sua monumental Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, verdadeiro programa do pontificado. Podemos assim chamar a isto o «fenómeno Pedro», pois se trata de mais uma aplicação da missão entregue ao Apóstolo e transmitida aos seus 265 sucessores.
Este é a verdade, a única verdade da atitude mediática do Papa Francisco, especialmente bem adaptada aos nossos tempos, tão exigentes no campo informativo. Mas esta não é a perspectiva que a generalidade da comunicação social tem perante o estilo do Papa. Como também é habitual, os jornais procuram a perturbação, a controvérsia, o tumulto. O seu esforço é fomentar zangas, atiçar desacordos, suscitar divisões.
Um Papa conversador e livre é uma excelente oportunidade para isso. Tal como Jesus e Pedro, Francisco passa pelo meio dos oportunistas para se dirigir aos pobres.
 

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