A opinião de ...

Entre a pandemia e as eleições, restam a angústia e a esperança

«Nenhum vento é favorável para quem não sabe para onde ir» (Séneca)
«Quem não se prepara bem para agir obtém insucesso na reacção precipitada» (Benjamin Franklin, 1750)

Decorreram hoje, 24 de Janeiro, as eleições para Presidente da República num contexto de expansão imensa da pandemia de SARS-CoV-2 e de receio de uma elevada abstenção. O Povo Português deu uma extraordinária lição de maturidade e de responsabilidade cívica votando em maior percentagem do que há cinco anos se considerarmos apenas os eleitores que então constituíam os cadernos eleitorais, ou seja, os não emigrantes.
Os resultados das eleições foram os esperados e anunciados pelas sondagens: 1) vitória do Presidente-candidato que congrega todo o eleitorado social-democrata (aqui incluída a ala liberal-social do PS) e democrata-cristão; 2) derrota dos radicalismos de Esquerda e de partido (Ana Gomes, Marisa Matias e João Ferreira); 3) afirmação da tendência social-liberal do Iniciativa Liberal (Mayan Gonçalves) e do descontentamento do eleitorado pobre e desempregado e do eleitorado conservador através do voto em André Ventura.
O único resultado que merece referência especial é o do voto em André Ventura porquanto ele espelha o descontentamento dos deserdados do nosso sistema democrático contra o discurso arruaceiro, ignorante e imbecil da extrema-esquerda. Se alguém promoveu André Ventura foram os radicais de Esquerda pela sua argumentação estalinista e hitleriana «ad hominem». Se André Ventura e o seu discurso são renegáveis, os radicais de Esquerda e o seu discurso não o são menos. São ambos propícios ao fascismo, ao autoritarismo e ao totalitarismo. E, portanto, fico-me por aqui nos epítetos.
Escrevíamos que estas eleições foram marcadas pela pandemia. Mas também pela gestão eleitoral que da pandemia fizeram ambos, Primeiro-Ministro e Presidente da República, sob a alegação de falta de apoio popular para medidas duras e de fundamentação técnica e científica.
Perante a angústia, fica a esperança na magnanimidade da Divina Providência e da criatividade do pessoal do Sistema de Saúde e do Sistema da Ciência, preferencialmente fortalecidas pelo ideal cristão da compaixão e da misericórdia.
Esperança em que o novo Presidente da República seja bem mais exigente, bem mais independente, menos populista e menos demagogo do que o anterior e bom árbitro do jogo político e vigilante da legalidade. E não repita com o Primeiro-Ministro a Sociedade «Senhor Contente&Senhor Feliz» (Ferreira, 2017) do primeiro mandato.
Esperança em que a «bazuca europeia» veja a aprovação final. Esperança em que os doentes curem depressa e morram pouco. Esperança em que o sucessor de Merkel seja tão bom e útil à Europa como ela.
Esperança em que Joe Biden e Kamala Harris, empossados em 20 de Janeiro, tragam acordo e projecto social à América e ao mundo através das principais armas da democracia, o diálogo e a concertação, e contribuam decisivamente para desanuviar as relações internacionais.
Esperança em que a vida renasça e a alma ganhe novas esperanças.

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