A opinião de ...

Grande salada russa, num fim de semana diabólico

Ainda o mundo não estava refeito do susto provocado pela destruição da gigantesca barragem ucraniana de cujas consequências, para além de outras menos visíveis, se destacaram:
- O enorme risco para a segurança da maior central nuclear da Europa, cujo colapso poderia provocar uma hecatombe de consequências inimagináveis para uma grande parte do planeta e comprometer seriamente a qualidade de vida das futuras gerações ;
- Transformar num imenso deserto, de enormes extensões de terrenos aráveis e férteis, com uma grande aptidão para a cultura de cereais, comprometendo a alimentação de muitos milhões de pessoas dos vários países para onde são regularmente exportados os excedentes de trigo, centeio, aveia e leguminosas produzidos pela Ucrânia, que ajudavam a minorar a escassez de alimentos em muitos países do mundo e contribuíam para a estabilização dos preços de outros bens de primeira necessidade.
Sem que nada o fizesse prever, uma condimentada e indigesta “salada russa com muito molho”, servida à ceia, obrigou o Sr. Putin a sonhar toda a noite com fantasmas de mercenários e traidores, ministros corruptos e generais incompetentes como os seus amigos Prigozhin, Shoigu, Gerasimov e quejandos, transido de medo com o aproximar de operações terroristas, rebeliões de mercenários, guerras civis, colunas de traidores a avançar sobre Moscovo e ameaças de morte capazes de porem termo ao seu império, à sua sobrevivência e o futuro da “sua” Rússia, demasiadas preocupações para um homem só.
Em presença desta grave e já indisfarçável crise interna, pelo muito que está em jogo, porque a Rússia não é uma nação qualquer, porque os riscos são muitos e evidentes, seria muito arriscado antever, com um mínimo de segurança, o que poderá acontecer no seio da própria Rússia e, por arrastamento, as consequências catastróficas para toda a humanidade.
Assim, mesmo tendo presente as fragilidades e contradições internas, manifestadas pela Rússia na facilidade com que os mercenários da Wagner avançaram sobre a capital, na impreparação, amadorismo e falta de equipamento do seu exército regular, na tímida manifestação de apoio das populações à insurreição dos mercenários, na tardia e manifesta dificuldade com que o próprio Putin reagiu a esta crise, confiando a sua resolução ao seu indefetível amigo Sr. Lucachenco, seria imprudente e perigoso esquecer que a Rússia é detentora do maior arsenal de armas nucleares do mundo, que neste tabuleiro se jogam muitos interesses antagónicos e que os cães, quando acossados, não hesitam em morder a mão do dono pelo que, mais uma vez, é esperar para ver.

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